Carta a Luciah Lopez: poesia não é ilusão. Se assim fosse, seria mágica.
Prefácio à obra de Luciah Lopez, " Entre Versos - A palavra branca é nua"
Por Mhario Lincoln/Luciah Lopez
A PALAVRA NUA
Carta a Luciah Lopez: poesia não é ilusão. Se assim fosse, seria mágica.
Prefácio à obra de Luciah Lopez, " Entre Versos - A palavra branca é nua"
Por Mhario Lincoln/Luciah Lopez
A PALAVRA NUA
Fonte:Mhario Lincoln/Luciah Lopez
Luciah Lopez com coragem poética, fala de Luz e Sombra
*Mhario Lincoln
"A tranquilidade não é a ausência de caos, mas a capacidade de lidar com ele de forma serena"
(Sêneca).
O poema publicado pela grande poeta brasileira Luciah Lopez, na antologia "República do Texto",
tem uma expressividade que qualquer cítrico literário a incluiria numa preciosa lista americana
de conceitos líricos chamada de - "List of surreal poets" – onde estão elencados, apenas, 132
poetas do mundo inteiro.
Uma lista mais que exclusivista. Porém, este poema (SEMELHANÇAS [ ! ]) é incrivelmente
enigmático. Foi-me difícil analisá-lo. Porém fui abordá-lo através da maneira como a obra
mescla reflexões existenciais com uma estrutura lírica que evoca a complexidade dos sentimentos
humanos. E como eu estudo e gosto muito desse tema, mergulhei fundo, a fim de descobrir nuances
nas entrelinhas espasmódicas dos versos. Por exemplo, o uso repetido do imperativo
"Tente, tente de novo!" me trouxe à baila a persistência e renovação (sempre) de Luciah Lopez.
Eu a conheço e com ela tenho um ótimo convívio. Essa é a razão de começar essa análise por
essa nuance muito perto do que os críticos podem chamar de tradição literária modernista
(até pós-modernista), onde são exploradas tensões entre desespero e esperança, isolamento
e a busca por significado. (Falas poéticas, claro!).
Outra nuance me chamou a atenção: semelhanças com TS Eliot também pela poética de Luciah
conter complexidade temática e, de certa forma, inovação estilística, a mesma que recentemente
li em livro do poeta Rogério Rocha, o extraordinário, “A Linguagem da Ausência”,
já resenhado no Facetubes(www.facetubes.com.br).
Luciah me remeteu "The Waste Land", onde Eliot explora a fragmentação da civilização moderna
e a busca contínua pela renovação em um mundo aparentemente sem esperança.
E quando você coloca, ambos, em sua frente Luciah e Eliott, fica mais claro
(há diferenças da construção;
porém similitude nas ideias e pressupostos). Leia, abaixo:
me ponho a caminhar(...)”
Ora, tais manifestações líricas me revelaram uma interessante interseção temática
de melancolia e reflexão sobre a condição humana. Enquanto em Eliot expressam
a crueldade do mês de abril, quando há uma sensação de renovação que é,
ao mesmo tempo, dolorosa, mas que também revive memórias e desejos que talvez
fossem melhor terem sido deixados em repouso.
Já os versos da poeta paranaense Luciah Lopez, membro da Academia Poética Brasileira,
seccional PR, falam de um silêncio que se instala na penumbra, onde uma “alma profana”
envolta em tristezas, começa a caminhar. Aqui, a ênfase está no silêncio e na tristeza,
na jornada solitária da alma. Logo, com características individuais e intransferíveis,
ambos os trechos lidam com temas de luz e escuridão, vida e morte, renovação e desolação,
explorando a
complexidade da experiência humana.
No fundo, me sinto mais seguro quando invoco a filosofia (poética) para expressar
minha visão sobre a "doença do espírito", citada no verso de Luciah: acho eu - em
total liberdade poética - um grito que reflete a ansiedade para encontrar ou manter a fé
em um mundo pós-moderno. Essa linguagem sugere uma tentativa de transcender
as limitações humanas e encontrar renovação espiritual através da perseverança,
mesmo que essa busca pareça fútil.
Maravilhei-me (como sempre), com esta produção lírica de Luciah Lopez, aliás,
com a maior parte da obra dessa poeta espetacular (que não visa aclames, reclames,
nem holofotes), na maioria das vezes, reflexões sobre a persistência em face do absurdo,
emolduradas dentro de uma análise mais ampla da poética filosófica, que questiona
e explora a resiliência humana diante das
adversidades espirituais.
Vamos ler juntos o poema publicado na Antologia APB, "República do Texto”:
SEMELHANÇAS
Luciah Lopez
[ ! ] do ontem, apenas a sombra
errante
e silenciosa
cala-se
na penumbra.
"Tente, tente de novo!"
e as vogais se embaraçam nos meus cabelos
as
fraquezas endireitam a existência
e
quanto mais aprendemos, mais nos isentamos
da
culpa (?!) e mais chafurdamos
na
doença do espírito - a falta de fé!
"Atordoada!"
[ ! ]
continuo caminhando
a
evadir-me na correnteza
"Tente, tente de novo!"
Cala-se a penumbra e
a
diáfana visão - misteriosa
alma
profana - envolta em tristezas
ponho-me
a caminhar.
Embalo no colo
as
badaladas do velho relógio
_________
e o Tempo adormece
ternamente...
"Tente, tente de novo!"