Insólita Manhã
Seria só mais uma fria e cinza manhã de domingo, não fosse a minha inquietante vontade de declamar poesias. Caminho pela calçada de pedras gastas passando pela árvore florida-, talvez uma Manduirana, não sei ao certo, mas as flores amarelas quebram a rigidez da manhã e fazendo um belo tapete sobre a calçada. Com este pensamento sobre a natureza das árvores, me aproximo da casa e da sua guardiã - uma Santa Bárbara ou Cinamomo, com suas minúsculas flores azul/violáceas. Sem mais demora, sento-me na calçada tendo como apoio para as minhas costas, o tronco encarquilhado da velha guardiã. Abro a bolsa, apanho o meu caderninho de poesias e nem mesmo a curiosidade de um ou outro motorista passando de carro pela rua, me causa timidez ou embaraço. Calmamente eu vou virando as paginas, até encontrar a poesia ideal e declamo uma após a outra, mantendo a cabeça baixa, numa atitude de quem está totalmente despreocupada com o mundo à sua volta. Uma brisa leve agita os galhos e uma chuva de flores perfumadas caem sobre mim, neste momento, aproveito para levantar os olhos até a janela e percebo um leve movimento na velha e sóbria cortina -, vejo rapidamente a mão que afasta milimetricamente a renda e imediatamente sou tomada por um pensamento 'o velho vampiro de Curitiba tem ouvidos apurados"-, baixo novamente os olhos e continuo a declamar, porque foi só para isso, que eu vim até aqui, nesta fria e cinza manhã de um domingo qualquer .
foto: Google
Quem conhece a "casa", sabe onde é...
Quem conhece a "casa", sabe onde é...
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