terça-feira, 22 de março de 2016

CARTA V


Já é noite e eu ainda estou em silêncio. Ainda está chovendo... O céu está prestes a dilui-se e escorrer pelas bocas de lobo em cada esquina perdida nesta imensa avenida que "come" minhas horas. A chuva fria, espanta meus pensamentos. Me deixo na cadência dos raios e na luz riscada que abre o peito do céu e despeja água sobre minha tristeza.
É uma água salgada. Lágrimas?! Não sei! Talvez possam ser lágrimas. Estou voltando para casa, voltando para "casa"... 
Andar na chuva e sentir a água molhar meu rosto me faz bem... Lava cada pensamento melhora a condição humana 
e me faz mais leve em meus pensamentos e reflexões.
... A chuva é tão fria e tão doce...



Boa Noite, Odur




Boa noite, Odur

A cidade adormecida não sabe das conquistas e nem faz parte do rol das pessoas felizes. No exercício do meu livre arbítrio e imbuida de uma felicidade repentina, eu me esqueço das horas e mesmo de pijama e descalça eu vou pro quintal olhar a lua. A certeza absoluta da cumplicidade lunar é interrompida pela garoa fininha e gelada que cai do céu e chega ao meu rosto feito carícia. Os meus pés descalços e a grama recém cortada... me esqueço de tudo e me ponho a dançar. Não estou preocupada com convenções e, sim, com a inspiração da minha alma e a diretriz que ela me aponta e a promessa de uma jovialidade que nos mantém, assim, tão juntos e tão simples em nossas descobertas. Ah, cidade, durma em paz as suas línguas maldosas, as suas
preocupações infundadas, os seus ciúmes absurdos, o seu senso inferior, durma as suas neuroses, os seus medos e a dissociação de seus parcos momentos do que é a felicidade. Durma! Durma enquanto eu continuo aqui, dançando ao som imaginário de The Köln Concert e absolvida de qualquer sentimento de culpa por estar tão feliz assim.

Amo você, boa noite, Odur




quinta-feira, 17 de março de 2016

DESENCONTRO



DESENCONTRO
Esta noite minh'alma dormiu fora de mim 
e eu senti quando ela saiu,
 porque a noite e o vento 
tornaram-se mais intensos. 
Ninguém veio, ninguém fez meia volta, 
ninguém olhou os meus olhos, assim, 
como ninguém ouviu meu choro - só o espelho estava lá, aonde moram os duendes e as fadas. 
Eu estava sozinha e senti medo - por isso procurei sua mão
e tudo que eu queria
era o seu peito, onde eu pudesse esconder o rosto
e ficar em silêncio, junto ao seu coração
Mas todas as minhas palavras
encontraram o próprio reflexo
em tantos cacos de espelho
caídos pelo chão