segunda-feira, 15 de abril de 2019

PRESSÁGIOS


Risos transbordam e  os pés estão cansados
devo chegar mais tarde
não me espere na lua de outono
antes____ vou fumar um cigarro
   Me espere na sua primavera


LÍRICAS


Ontem eu era chão virado. 
Era um grão de poeira na dança do vento.
 Era verbo sem princípio na ressonância da vida
na cor e na dor de todas as sementes
prontas para germinar um novo evangelho.

quinta-feira, 4 de abril de 2019

MOEDAS


Somente a você eu posso dizer que me desvencilhei de toda angústia porque o tempo é uma sombra agarrada aos meus pés e, onde quer que eu vá, não irei só. Eu continuo andando rumo à nascente do rio e as moedas que encontro ao acaso, serão colocadas na sua boca, como pagamento pela sua travessia. Tenho certeza de que os canhões que cospem maledicências  tentam encobrir  o céu azul e fazer dormir o amor estrangeiro. Eis que na modorra da tarde Abelardo caminha com passos lentos, traz debaixo do braço, o pacote de pães que comprou para sua tia. As ruas estão desertas apenas o burburinho no interior dos botecos e casas, revela a presença de vida. O velho casarão tem sua arquitetura iluminada pelos últimos raios de sol, Abelardo sabe que o tempo é como um grande arquiteto  na construção da abóbada celeste, nisso os longos dias se repetem e como um arauto que tem consciência, ele cospe nas mãos esfregando-as a seguir e, aperta o pacote sob o braço sentindo a quentura dos pães. Nas vitrines, os manequins esquálidos com seus olhos de plástico, dormem o sono de grandeza nos sonhos de Abelardo.  As surpresas são os carimbos, a tia, os pães, as ruas, as calçadas, o céu azulecente, a piada sem graça, as frases feitas, o carro, o homem que não cresce, as mentiras, o pão embolorado, a boca sem dentes, a cama de campanha, a galinha guisada, o cigarro, a tosse, os pés e o chão em comoção e tardia espera de um amanhã que não vai exister. Abelardo senta-se na guia da calçada, abre o pacote de pães e afasta os pensamentos enquanto abocanha o pão ainda morno.