Talvez amanhã ou depois ou mais tarde -, eu comece a assoviar uma antiga canção de Willie Dixon e caminhar junto à casa como fazia o meu pai. São épocas passadas que nunca adormecem e eu me mostrei como sou - sei jogar as fichas e esconder os dados na manga da blusa e na mesinha de cabeceira sempre aquele olho sem pálpebras me mostrando as horas - isso podia ser parte de um pesadelo, mas não é. Portanto, uma ablução pode nos livrar de nossas culpas no mesmo instante em que a luz dos vaga-lumes permeia a noite clareando rumores e o farfalhar das folhas secas de outono sob os meus pés. Tudo isso estreita as minhas relações com a sabedoria do homem que caminha ao meu lado e me mostra a a extraordinária beleza de estar viva.
segunda-feira, 29 de maio de 2017
PRIMEIRO DIA
A evolução do pensamento capaz de reproduzir a origem do Tempo e tudo que nele está contido, mas não de forma estática, e, sim em constante movimento. A visão da sua imagem até a 'primeira vez' nunca se perdeu, e os seus traços sempre foram os mesmos - familiares ao meu coração e alma. E tantas vezes eu chamei por você em nossa infância recente que era imperativo reencontrá-loe mesmo que que estas revelações se tornem parte dos experimentos da vida, mesmo assim, a aspereza da solidão terá sido válida por tudo aquilo que de você fluiu para mim e me fez verdadeiramente mulher em toda concepção da palavra. Por longo tempo permanecemos à porta dos sonhos e eu andei pelas horas, carregando nas mãos todos os signos que traduzem o essencial para que possamos ser aquilo que desejamos. Pela primeira vez, senti a paz ressurgindo, ao vê-lo sorrir/menino que é e sempre foi.
Feliz Aniversário Odur
imagem: Luciah Lopez
SEGUNDO DIA
Voo ao seu sonho e mesmo na demora das letras a imagem se faz no caminho da sua existência e em tudo que se renova na minha vida. Que sabia eu de sonhos, antes da sua chegada? Era apenas um dormir sem ter porque -, mas a exatidão das suas palavras deu um sentido, um norte à minha alma e uma razão para os meus sonhos. À luz da consciência enfraquecida e a noite já bastante avançada, contudo, estou aqui desperta do torpor de cansaço e me preparando para finalmente voar até onde você e eu somos um a essência do outro.
para Odur
sexta-feira, 26 de maio de 2017
TERCEIRO DIA
[ ! ] através da penumbra o meu olhar sucumbia às correntes obscuras encerrando mais um dia e tampouco o sono era capaz de manter o silêncio nos meus pensamentos. Naturalmente a sua imagem era resgatada de cada espectro projetado na parede nua e remetido a alguma aventura em vestes de herói tupiniquim montado num pássaro azul. Eu já havia perdido o habito de sonhar, me considerando mais uma hipócrita extravagante representando a difícil e árdua tarefa de caminhar em solo adulto. Ah, como era repulsiva e empobrecedora essa caminhada diária com ares de mandona - até os meus ossos doíam - então, em meio a uma tarde morna (onde eu, bem que devia estar lendo Joyce, Whitman ou Bukowski), aconteceu a renovação da minha existência - e eu, já acostumada a uma boa dose de solidão, me rebelei a ela e passei a existir sobremaneira encantada com a sua presença espontânea na minha vida. Há uma amável tranquilidade entre você e eu e isso não nos deixa indiferentes às necessidades puramente carnais, contudo, o que está em nós se renova a cada dia ( e noite sucessivamente) e assim será.
para Odur
QUARTO DIA
Minha vontade era de estar contigo, sem importar-me com interpretações que venham a ser feitas sobre isso -, não me sinto a caminho do Gólgota pelo fato de amar demasiadamente. Basta a realidade mais divertida do que uma completa incredulidade na existência do Amor. E se me olhas resolutamente nos olhos, posso saber onde reside a felicidade, e, contrariando a própria vida e suas maledicências eu me percebo um novo ser, quando em suas mãos vivencio o crescimento da minha alma. Encerra-se a solidão e eu sou capaz de fazer versos...
para Odur
quinta-feira, 25 de maio de 2017
QUINTO DIA
Me refugio na harmonia das suas palavras com cheiro de hortelã, e a serenidade apaixonante da infância que nunca diz adeus, me transposta ao paraíso aonde podemos escrever nossa história. E a sua voz exorta-me a criatividade nas cores e linhas, de forma a revelar o meu olhar sobre todas as coisas. Todavia, só me interessam as flores com as quais, eu me ponho a construir nosso refúgio para os momentos de carinho e entrega. Não há o fracionamento do Tempo ou exclamações e interrogações que possam ser convertidas em dúvidas -, há somente a nossa conduta pueril, livre de toda opressão e a certeza de nos pertencermos um ao outro no hálito do universo.
para Odur
terça-feira, 23 de maio de 2017
SEXTO DIA
Marcamos um encontro numa nebulosa azul -, eu voo ao seu encontro emprestando asas de trinta pássaros e no meu coração levo a infância vestida de noiva -, branca, alva, diáfana - é a minha herança. Há tempos, enquanto observava a luz rala das estrelas por detrás das nuvens, eu soube de um universo existencial e a estranha emoção de fazer parte dele. Não há absolutamente nada além dessa certeza e um leve estremecer - quase imperceptível - quando me lembro da sua boca tomando a minha, num beijo milenar. Permaneço assim, flutuando neste universo indescritível até adormecer.
para Odur
SÉTIMO DIA
Havia muitos anos desde que a Sentinela do Tempo - resignada - depositou na palma da minha mão, a Chave que Desdobra a Eternidade e todos as trombetas soaram e a chegada do dia estendeu-se em campo aberto unindo todos os planos celestiais. Uma lágrima escapando dos meus olhos transforma-se em diamante ganhando a credibilidade do Arauto de Todas as Verdades. Ambos, Sentinela e Arauto -, ajoelhados diante do Sol, quando em seu esplendor, corre o céu eclodindo a vida para dentro dos meus olhos-, outrora cegos, entoam cânticos reverenciando a Hora do Choro Que Não é Triste. Um raio do espectro solar faz dissipar um resto de nuvens que já cumpriram sua missão e o Leão de Pedra reluz...
para Odur
domingo, 21 de maio de 2017
A LUA
Ela caminha cabisbaixa e indiferente
aos cachorros sem dono que a seguem. A sombra dos postes passam trazendo uma
mescla de tristeza e solidão. Sente o coração - (sabe que esta viva). Viva!Estar
viva, mas, por quê? Lentamente seus olhos buscam a lua. Pálida. Silenciosa.
Pendurada num pedaço do céu. Ama a lua.Sonha com a sua quietude – com sua
solidão. Ela é a lua! Sente-se assim – pendurada num pedaço do céu. Sente o vento
nos cabelos – o vento pode atravessar seu corpo, sente-se assim, fluída. Abre os
braços e continua caminhando. Abre a boca buscando o ar à encher-lhe os pulmões. Esta
vazia. Vazia de si. Oca de sentimentos. Os cachorros seguem calados –
observando. Talvez entendam aquilo como uma brincadeira, mas,não participam,
apenas observam. De súbito ela para. Junta as mãos em prece – os olhos marejados
se desprendem da lua. Pássaros noturnos voam baixo. Tudo é silêncio e solidão. Triste
ela percebe que não pode ser igual a lua. Suas pernas não suportam o peso do
corpo – cai. Aquieta-se enrodilhada feito um bicho. Os cachorros deitam-se ao seu
lado – silenciosamente aquecem seu corpo durante a noite fria.
PAISAGENS
Paisagens
Estou diante da janela e o vidro é tão fino e transparente que a paisagem lá fora me pertence. Metade de mim é o vidro e a outra metade é a paisagem. Como saber quando juntar as duas ou qual delas é real? O vidro e a janela, as paredes de cores desgastadas, a paisagem navegando entre o verde e o azul num quadrilátero perfeito – útero!Então me percebo encolhida como um feto esperando a hora do nascimento. A janela me permite ver o mundo, mas o vidro me impede de senti-lo. Não me permite tocar e respirar e até mesmo viver a paisagem.
(Sou engolida por ela)
Assinar:
Postagens (Atom)