quinta-feira, 28 de julho de 2016

Agnaldo, o Mííípi

Agnaldo, o Mííípi

Eu particularmente nunca gostei de ver animais presos em pequenas jaulas, seja em circos ou em zoológicos e até hoje eu só tive um passarinho, porque ao passar em frente ao aviário, percebi numa grande gaiola, que vários passarinhos estavam bicando um coitadinho. Comprei o bichinho -, um Diamante Mandarim que até então eu nem sabia existir e pensando em solta-lo na Serra do Mar, comentei com o vendedor, mas o homem disse que um pássaro que nasceu em cativeiro, não sobrevive solto no mato. Levei o passarinho com gaiola e demais acessórios e o batizei de Agnaldinho. Driblando a síndica do prédio entrei pela garagem e uma vez em casa, coloquei a gaiola sobre a mesa e esperei ele cantar. Mas tudo que ouvi foi algo parecido com "míííípi"... Frustei! Mas com o passar dos dias, eu já estava íntima do passarinho e conversava com ele chamando de Míipi ou Grinaldinho. Quando eu ia pra faculdade, deixava a gaiola no chão com a portinha aberta e  uma tigelinha com água pra ele tomar banho. Mas o danadinho adorava mesmo era a pia do lavabo, então eu passei a deixar um filetezinho de água escorrendo e o Míípi fazia a festa e deixava  um monte de côcozinhos pra eu limpar.
Quando eu chegava, costumava ficar quieta procurando colocar a chave na fechadura da porta sem fazer o menor ruído, mas que nada, o danadinho escutava e gritava Míííípi, escondido na samambaia pendurada no canto da cozinha. Depois que eu entrava no banho, ele ia pra gaiola e ficava deitadinho no ninho até o outro dia. Foi assim durante anos até que um dia eu acordei e o Mííípi tinha ido cantar lá no céu. Enterrei ele dentro de uma caixinha forrada com papel de seda azul e rosa porque nunca soube se o Mííípi era menino ou menina...


quarta-feira, 27 de julho de 2016

O CIRCO




O CIRCO

Na minha infância, era muito comum os pequenos circos se instalarem num terreno próximo a minha casa. Armavam a grande e puída lona, faziam as chamadas pelo bairro e ficavam em média dois finais de semana. Depois desmontavam tudo e sumiam da mesma forma que chegaram - em silêncio. Nesses períodos era sempre a mesma coisa -, o sumiço de gatos e cachorros do bairro. Muita gente falava à boca miúda-, que era o pessoal do circo, quem desaparecia com os animais, mas ninguém podia provar. Restava só falatório sempre que alguém sentia falta de um gato ou cachorro. Diziam que o pessoal do circo recrutava a molecada do bairro e trocando um gato ou cachorro por entradas no espetáculo e os animais eram jogados como comida aos leões magricelas e mal tratados, que passavam a vida inteira presos em pequenas jaulas de 2 x 2 metros, urrando a noite inteira. Numa dessas aparições de um pequeno circo, o meu cachorro, um pointer marrom e branco chamado Napoleão, fugiu enquanto minha irmã entrava pelo portão de casa. Não deu outra -,  eu aos prantos, esguelando e chamando o cachorro e todo mundo procurando por ele. No bairro todos conheciam o meu cachorro e  ajudaram a procurá-lo até o final da tarde e nada de encontrar o Napoleão. Eu ainda esguelando esperava o meu pai chegar. Mal ele parou o carro e foi cercado por todos, falando ao mesmo tempo sobre o sumiço do cachorro. Meu pai deu uma olhada para constatar o meu estado lastimável (olhos inchados, nariz melequento e a boca escancarada num choro sem fim) e sem mais a falar ou fazer, entrou no carro e foi até o circo. Pimba! E chegou na hora. O cachorro estava lá, amarrado com uma cordinha talvez esperando a hora de virar comida de leão. Meu pai chamou a polícia e armou um barraco. Moral da história - o circo desarmou o acampamento e partiu, mas o Napoleão voltou pra casa são e salvo. 



domingo, 24 de julho de 2016

INDAGA(ções)



Indaga (ções)
 
 Na beira da tua saudade, a minha solidão se mostra no espelho e se adianta de mim acompanhando a melodia dos teus passos por estas calçadas gastas. Tudo ao redor é apenas parte do cenário e no instante em o semáforo muda de cor, o espelho cai das tuas mãos eu entendo que a vida é segmentada e que as musas seguem sozinhas e nuas e tão nuas são as certezas  de Ícaro ...









quarta-feira, 20 de julho de 2016

ANACONDA


  ANACONDA

Foi numa manhã de primavera que ela chegou à pequena cidade de Areia Branca. Toda vizinhança em polvorosa, pois nunca tinham visto uma beleza igual. Parecia um anjo caminhando com passinhos rápidos fazendo o vestido florido esvoaçar. Um ano após a sua chegada, ela já estava totalmente envolvida na rotina da cidade e seus moradores tudo faziam para cair nas graças da professorinha de biologia. A macharia disponível, se coloca à disposição para  acompanhá-la à missa aos domingos ou para carregar suas sacolas de compras, mas ela nem ai pra tanto chamego. Aconhecer Redclif. Foi paixão à primeira vista e logo no dia de Santo Antonio o padroeiro de Areia Branca. Padre Olavo não pensou duas vezes e foi  abençoando a união. As baratinhas de sacristia, ops! -, as beatas seguidoras do padre,  enocntram um novo assunto para fuxicar - o novo casal de Areia Branca, igual dois pombinhos arrulhando pelos arredores da cidade. Tão logo Maria da Fé, ficou sabendo do namoro, criou coragem e tomou a liderança e  foi falar com a professorinha, avisando sobre o moço, que nada tinha de 'bom moço'-, era um papa virgem! Filho mimado de seo Ludovico que ensinou ao filho, como se tira um cabaço de donzela. De nada adiantava os lamentos de dona Candoca, o filho seguia fazendo alegria do pai: "mulher é igual cabrita, gosta de ser fodida". Mas a professorinha estava cega de amor e não deu ouvido e foi dizendo: -Comigo vai ser diferente, vai ter que casar! E o namoro continuou e tudo foi preparado para o casamento dos dois, que seria na próxima festa do santo casamenteiro, e assim foi. Ela de véu e grinalda, cheirando a flor de laranjeira. Ele num terno cinza de risca de giz, impecavel até no brilho dos sapatos, esperou por ela no altar. Contrariando os bons costumes, a noiva entrou sozinha, já que não tinha nenhum parente pra fazer as honras e entregá-la no altar. Padre Olavo reclamou, resmungou e acabou aceitando a modernidade. Festa das boas, muita comilança, bebida e muita música até a despedida dos noivos, que aos beijos, seguiram pra lua de mel. Redclif estava afoito, passou um ano inteiro tentando uma bolinadinha, uma mão boba, mas a professorinha incisiva:"Só depois de casada!" -, e assim foi. Na lua de mel, a professorinha teve mais orgasmos que estrelas no céu. A  paixão e amor só aumentou e de noite o feitiço do amor era na base de beijo e muita gemeção. Dois anos se passaram. A vida da professorinha já não era o mar de rosas -, Redclif saia todas as noites com os amigos, indo jogar um carteado, uma sinuca ou mesmo tomar umas doses de Rabo de Galo num boteco da periferia, de onde sempre saia acompanhado de alguma moleca espevitada e dispostas a servir de cabrita gemedeira, sempre de quatro no banco de trás do carro estacionado num lugar ermo. Depois de muita safadeza, Redclif deixa a cabritinha mamadeira no mesmo boteco e voltava para casa altas horas da madrugada, sempre com cheiro de perfume barato, as manchas de batom e as costas arranhadas. Se deitava ao lado da mulher sem se preocupar com maiores explicações. A professorinha estava prenha e cheia de vontades de comer pepino com geléia, jaca, chupar limão, roer caco de telha e outras coisas mais. Redclif estava sem saco pra tanta falação de mulher buchuda,  já que estava de olho em Melinda, a filha do alfaiate que fez o seu terno de risca de giz. Menina nova, magrinha, corpo bem feito, seios durinhos sempre soltos dentro da blusiha de alça, cinturinha fina, bunda empinada, coxas grossas e andar espremido de menina virgem doidinha pra gozar. Não se fez de rogado e espichou a conversa, cercou pra lá e pra cá, até que Melinda aceitou as flores, bombons, perfumes e acabou nua dentro do carro, gemendo igual gata no cio e arranhando as costas de Redclif. Em casa, a professorinha, prepara o banho do marido e percebe os arranhões, as mordidas e chupões pelo pescoço. Ela não falou uma palavra sequer, mas também não pregou os olhos e quando Redclif acordou, não encontrou a mulher, procurou pela casa toda e não a encontrou. Foi ataé a casa dos pais e nada sabiam sobre o paradeiro da professorinha. Nas ruas, na igreja, na padaria, ninguém sou dar uma informação sequer. Dois dias se pasaram e até  Mané polícia foi acionado para fazer as buscas pelas redondezas e as beatas de padre Olavo já estavam nas orações. Na manhã do terceiro dia, um táxi vindo da capital, parou em frente ao portão da casa de Redclif e a professorinha, desceu, ainda mais barriguda que antes. Foi uma falação sem fim! Todos querendo uma expolicação e ela nada -, nem ai! Depois dos ânimos calmos, ela avisou ao marido, que durante a noite, recebeu uma ligação avisando da morte súbita de um parente distante e que herdou uma casa numa cidade próxima. Disse que gostaria ir com ele, passar uns dias, antes do filho nascer, que seria igual na lua de mel - só os dois. Redclif não pareceu entusiasmado, mas quando ela sussurou em seu ouvido: "Se você for, eu deixo você me foder por tras igual uma cadela no cio"-,  ao ouvir essas palavras, ele teve uma ereção! Aceitou na hora e partiram em viagem ao final do dia, mesmo sob os protesto de dona Candoca e das beatas, alegando que mulher prenha não pode sair por ai sem paradeiro porque isso faz a criança virar e dificulta o parto. Durante a viagem, ela foi bolinando o marido ao ponto de seu pênis latejar. Ele não se continha em pensamentos, afinal teria o seu prêmio tão cobiçado desde que bateu os olhos na professorinha. Já era noite quando chegaram a tal casa, um velho sobrado com vários quartos e uma sala ampla, uma boa cozinha, banheiros, um sótão  e um porão que certamente cheirava a mofo. A casa  bem afastada da cidade não tinha vizinhos por perto. Parecia uma velha casa abandonada não fosse pela luz acesa. Redclif levou a única mala que trouxeram e também uma grande cesta com as coisas para o lanche da noite. Enquanto Redclif leva a mala pra o quarto, a professorinha arruma a mesa com bolos, sucos e sanduíches e serviu o marido varios copos de suco e muito carinho. Deram risadas e ele falou sobre o que fariam logo mais e como ela ia gozar e gemer feito uma cadela vadia. Ela sorriu. Ele sentiu uma comichão que começou no pênis e foi subindo pelo corpo todo, um torpor. Sentiu a boca amarga e seca, quis tomar mais um pouco de suco e não conseguiu segurar o copo. Tentou ficar em pé, mas as pernas não sustentaram o peso do corpo. Caído no chão, Redclif olhou para a professorinha-, ela sorriu! Ele não consegue se levantar, braços e pernas não obedecem. Sua cabeça lateja, sua visão embaçada e a boca seca. - Sua cadela, o que você fez?! Eu vou acabar com você, sua vadia! Sem dizer uma só palavra, a professorinha se levanta, vai até o sofá onde deixou a bolsa e volta com um rolo de fita adesiva. Ajoelha-se ao lado do marido e calmamente coloca a fita sobre a boca de Redclif dando varias voltas em torno da cabeça o impedindo de gritar os palavroes e ameças. Ainda sorrindo, ela junta as mãos do marido e prende os pulsos com várias voltas de fita adesiva fazendo a mesma coisa nos tornozelos, tirando os sapatos dele e guardando junto com a fita, na bolsa. Caminhando lentamente, ela passa junto ao marido que ainda se debate parecendo um verme tentando inutilmente gritar. Ela vai até a porta que leva ao porão, abre, acende a lampada. Volta até Redclif e ainda sorrindo, olha direto em seus olhos e percebe que ele esta apavorado. Ela o segura pelos pés e começa a puxá-lo. Precisa fazer muita força, pois além do peso do marido, a sua barriga a impede de movimentos rapidos. Ao final de alguns minutos e muita força, Redclif está deitado no piso frio do porão. A luz fraca e amarelada, quase não o deixa ver nada ao redor a não ser que a janela esta pregada com tábuas. Redclif se debate, as pernas e os braços não reagem e sua cabeça lateja. O medo toma conta do seu corpo, ele tem um unico pensamento: Ela vai me matar! Em pânico se lembra que não contou aos pais pra onde iam em lua à mel. Ninguém sabe onde estão. Nesse instante a professorinha se ajoelha e beija a boca do marido, mesmo por cima da fita adesiva. -'Você vai ficar em boa companhia!' Ele se debate e sem poder falar nada, vê a mulher se levantar e sair do porão, subindo as escadas bem devagar. Ela apaga a luz e ele ouve a porta fechando. Tudo é silêncio. Um escuro profundo como o pavor que se apossa dos seus pensamentos. Ele tenta respirar auele negrume enquanto as lágrimas correm pelos cantos dos seus olhos. O ronco do motor do carro chega aos seus ouvidos, ele compreende que ela esta indo embora, mas ainda tem um pensamento abestalhado pelo medo: Ela está me dando um susto, vai ver descobriu sobre a cabritinha e está me dando um corretivo. É isso!Ela vai voltar, ela me ama! O carro se afasta e tudo volta a ser um silêncio negro. Algo faz barulho  no porão. Redclif  sente  o  coração acelerado no peito. Continua a ouvir algo se arrastando no canto embaixo da escada. O pavor toma conta do seu corpo. De todos os poros vaza um suor de medo, a urina e as fezes escorrem quando Redclif sente a presença do imenso réptil ao seu lado, farejando o seu medo  - uma anaconda. Redclif fecha os olhos... O dia amanhece em Viradouro, uma pequena cidade muito distante de Areia Branca, onde uma mulher que mais parece um anjo, dá à luz uma criança que nasce sorrindo.



 imagem: Google 
Anaconda (Eunectes spp)

quinta-feira, 14 de julho de 2016

FÊMEA

FÊMEA
 
Não importa se é lua cheia ou noite de escuridão. Ela arranca a roupa e uiva feito bicho-, rolando no chão, em atitude provocadora passa a língua pelos lábios e rasga o verbo falando palavrão. Nessa hora, ela é bicho que não atina coisa com coisa e não adianta reza e nem figa, porque não tem fuga. Tudo é questão de momento e o tempo desacelera em conchavo evidente. Lá fora,  a lua espia em silêncio e morrendo de inveja se cobre de nuvens. A vizinhança em polvorosa, batem as janelas e as mais afoitas esfregam as coxas aproveitando a comichão. E lá no chão, no tapete da sala de estar-, braços e abraços, bocas e línguas, salivas e beijos, pernas e sexos se possuindo numa consumição que até mesmo o padre eterno abdica da castidade e se entrega às malemolências das ex beatas e prova da mesma maçã da tentação. A noite segue madrugada à dentro e ela uiva e crava as unhas nas costas do seu macho, puxando o peso dele sobre o próprio corpo em completa rendição -, na verdade uma mulher/fêmea compartilhando seu orgasmo.


Freya e Odur



 imagem: Hyohei Hase



quarta-feira, 6 de julho de 2016

MISTÉRIOS


Mistérios

Desde o início sempre foi você. No meu coração em desalinho, uma ansia e um sofrer, um tanto querer outro tanto não ter -, era assim, só assim o meu viver. E quando tudo era ausência, meus olhos mergulhavam à sua procura e a tristeza era a companhia de hora onde o sono era a fuga pra remediar -, eu sonhava um sonho atras do outro e rabiscava poesias a nâo mais querer. Muitas vezes, eu confesso, chorar até adormecer, noutras vezes, somenta à lua eu confessava todos os meus quereres e me fingia sua, em cada verso em cada rima de poesia crua. Mas quem mandou, coração amar quem não era meu?! E tanto eu sonhei até que acabei presa dentro de um sonho com medo de acordar... O tempo, inexorável segue adiante e tudo que eu quero, tudo que eu desejo, segue comigo pra onde eu for e eu preciso de um vento forte pra secar todo esse choro antes de adormecer, enfim.

 para LAM/Odur

terça-feira, 5 de julho de 2016

MEU IRMÃO MAIS VELHO


MEU IRMÃO MAIS VELHO
Todos os dias era a mesma coisa -, choradeira após o banho na hora de  pentear os meus cabelos e arrumá-los numa trança ou rabo-de-cavalo (norma da escola, para as meninas). Sendo cacheados, passar um pente era coisa mais que dolorosa e eu gritava e esperneava até minha mãe perder a paciência e me dar uns tapas. E no meio do chororô, o meu salvador adentrava o quarto já empunhando o pequeno pente de tartaruga e pacientemente tomava o lugar da minha mãe na dificil tarefa de desembaraçar e trançar aquele emaranhado de fios molhados e cheios de nós. Mas com jeito, o trabalho rendia e a minha trança era sempre enfeitada com um belo laço de fita ou uma fivela. Terminada a sessão tortura, eu estava pronta para almoçar e depois ir à escola. Nesta época, eu era muito ligada ao meu irmão mais velho e gostava de ficar junto, enquanto ele montava as réplicas de aviões. O esqueleto do avião tomando forma, o revestimento com um papel especial que recebia varias camadas de resina até ficar bem resistente. Depois da secagem, vinham os adesivos nas laterais e nas asas do avião. Alguns modelos, tinham elásticos presos à hélice e quando estas eram giradas torciam o elástico e isso dava propulsão ao avião, fazendo-o decolar num pequeno voo que na maioria das vezes acabava num desastre. Depois vieram modelos mais elaborados e com motor movido à combustível. Não sei qual era, mas gostava do cheiro e do barulho do motor. Mais tarde, quando eu estava com 12 anos, meu irmão mais velho, resolveu brincar com aviões de verdade e foi fazer o curso de piloto, coisa já esperada porque meu pai era do Ministério da Avição e sempre morou próximo ao aeroporto por causa do trabalho no Departamento de Aviação Civil. Nesta época, meus cabelos eram curtos e eu não precisava mais de ajuda para arrumá-los, e os meus interesses também mudaram -, descobri os livros e ficava horas 'empoleirada' na minha goiabeira, lendo As Viagens de Gulliver, Robinson Crusoé e os gibis. E por conta dos tais gibis, eu acabei descobrindo uns livros que estavam embrulhados e guardados dentro de uma mala, embaixo de um monte de gibis do Recruta Zero e Seleções Reader's Digest. Naquele tempo, as camas tinham cabeceiras altas e no lado oposto, uma proteção com a metade da alura da cabeceira e foi sobre essa proteção que eu alcancei (na pontinha dos pés) os tais livros. Fui apresentada a Cassandra Rios e  Adelaide Carraro. Depois do choque da primeira olhada, eu consegui ler algusn livros antes de ser apanhada num flagrante e receber um castigo daqueles. Então, meus 15 anos, festa, novos amigos novos interesses e o meu irmão mais velho sendo mais caseiro, tambem se distanciou e rrumou uma namorada. Eu, uma adolescente querendo ir à bailes e festinhas, dirigir carros e pilotar moto, descobri em meu outro irmão o parceiro ideal. Sendo ele também piloto, me deixava carro e moto aos meus cuidados sempre que viajava. Meu irmão mais velho se casou e me deu a alegria de ser tia da Daniela, que logo estava comigo passeando de carro sentadinha numa cadeirinha no banco da frente. O tempo era algo que não me preocupava - eu era feliz, tinha uma família feliz, o que podia dar errado?! A ordem era viver e ser feliz, não haviam motivos pra preocupações. Meus pais eram maravilhosos, embora Suzana já não morasse mais na nossa casa, minha irmã cuidava de mim me fazendo todos os caprichos. Meu irmão mais velho, agora casado e com uma filha e um filho, tinha se tornado mais distante, mais fechado e isso me aproximava mais do meu outro irmão. Tudo era festa, tudo estava perfeito demais. Julho! Quatro de julho aniversário da minha irmã e ela no hospital se recuperando de uma cirurgia na coluna. Seis de julho, meu aniversário sem festa. Onze de julho de 1981 - 20h - vou sozinha à missa ecumenica da minha formatura de segundo grau - 22h30 chego em casa e logo vou me deitar - 23h55 meu pai atende o telefone e eu escuto ele falando: "Estou indo" e desliga o telefone. Meu pai vem até o meu quarto e me diz: " Vamos pra Cornélio, sua irmã morreu" e começa a chorar indo até o quarto do meu irmão dar a mesma noticia. Entramos no carro e ninguém falou nada, nehuma palavra durante a viagem. Quando chegamos ao hospital, eu olhei para o rosto do meu pai - ele estava mais velho!! Envelheceu durante a viagem e calado foi se encontrar com a minha mãe e providenciar a volta da minha irmã não para nossa casa. Foi a primeira vez que a morte chegou perto. Chegou e levou o meu anjo de luz. A vida segue o seu curso, a dor vai cedendo lugar à saudade. Venho para Curitiba para estudar e fico morandodefinitivamente em Curitiba. Meu filho nasce em 24 de março de 1986. Três de março de 1987, aniversário da minha mãe - internamento emergencial - amputação da perna - 16h consigo falar com minha mãe pelo telefone, dio que a amo, desejo feliz aniversário e que estou indo pra lá a noite - 17h ela sente dor, pede um medicamento, enfermeira  ministrando morfina e.v. - choque - coma! Onze de março 18h - casa dos meus pais, atendo o telefone e o médico que a operou me diz: "Eu sinto muito, infelizmente a sua mãe faleceu" - segunda vez que a morte chega perto e levou a minha mãe. A tristeza do meu pai foi imensa, reclusa e silenciosa. Durante 12 meses ele não fez outra coisa além de ir ao aeroporto, ao posto de gasolina pagar os funcionários e voltar antes das 18h estar em casa e sozinho até a hora de dormir.Todos as noites eu ligava  para saber como ele estava e desejar boa noite: " Te amo papai, bons sonhos" - Vinte e quatro de setembro, a primavera não me trouxe flores. A morte se aproximou mais uma vez e levou o meu pai enquanto ele dormia. A impotência diante da morte, a mais completa solidão, a angustia mais profunda eu experienciei naquela manhã de sábado ao atender o telefone e ouvir do meu irmão mais velho: " O papai faleceu"... Vinte oito anos se passaram. Muitas coisas mudaram na minha vida. Muito aprendizado e a certeza de que preciso melhorar muito e aprender muito.Desde 2004 por um motivo tão fora de propósito, acabei por me afastar do meu irmão mais velho e não nos falamos mais e não nos viámos desde de então. Dois de julho - 9h56 - minha sobrinha Daniela me avisa que o pai dela faleceu durante a madrugada. O pai dela é o meu irmão mais velho - 12 anos de silêncio e uma eternidade para eu pensar se valeu a pena. De antemão eu digo: Não valeu nada! Embora tenhamos sido criados na mesma casa, recebemos os mesmo conceitos sobre moral, sobre perdão, sobre a convivência entre irmãos, não soubemos dar continuidade aos ensinamentos do meu pai e com a sua morte, nos afastamos por motivos tão insgnificantes se colocados à luz da verdade de que somos irmãos e agora só restamos dois, eu aqui e o meu outro irmão em algum lugur no Uruguai, mas este eu vou procurar e dar um abraço antes que 'ela' venha nos visitar novamente.


*J.L.R. estaja em paz e na companhia dos nossos pais e irmã




foto: LL  02/07/2016






sexta-feira, 1 de julho de 2016

VICISSITUDES


 VICISSITUDES

...e a língua lambe as machucaduras da alma e o breu desce das mãos da noite e penetra as feridas que nada mais são, que flores abertas exalando o nectar do gozo de viver e mesmo que agora, eu bebesse da taça onírica e me permitisse a mais louca viagem que mesmo Don Juan já ousou -, mesmo assim eu ainda seria a mesma menina, com o olhar perdido nas esquinas do tempo e os pés calçados com tamanquinhos de solado de madeira. Ainda seria eu _____ali, parada ante a porta do infinito tendo todas as flores aos meus pés.


foto:LL