domingo, 18 de agosto de 2019

DENTRO DE MIM O AMOR



dentro de mim o pássaro de bukoswski e nada mais importante para dizer do que carregar o amor enjaulado no peito dentro do coração azul porque eu costurei as suas asas com as cores do sol poente e no asfalto ardente eu escrevi poemas de carne e ossos dentro de mim eu prisioneira de ti alma gêmea, haveríamos de ficar tristes se cada um ao nascer trouxe em sua mão o coração do outro e ao romper a membrana do tempo nos colocamos frente a frente e num abraço alado ganhamos asas_____haveríamos de ficar tristes?! dentro de mim os teus gametas são como pássaros encantados voando na profundidade da minha alma como quem escreve um poema no coração da criatura alada brancazulada que dobra o céu em origami de estrelas e flores. dentro de mim o menino pássaro azul




terça-feira, 6 de agosto de 2019

PENSAMENTO VIRGINAL



Há tantas luas e tantos sóis girando no céu da boca e tantos sorrisos que já não fazem eco... E por onde quer que eu vá, você irá comigo recitando um salmo e acordando a alma das pedras, até que o vento descanse em redemoinhos antecipando a sexta hora. Haverá um  pensamento virginal e os meus cabelos serão vermelhos tal qual a hóstia antes do beijo vestal.




imagem: Francis Picabia

quinta-feira, 1 de agosto de 2019

AMANHECERES


Adeus Julho ___________ e seus dias carregados de tristeza. Indiferente seguiste, considerando-me à repulsa de toda sorte, encerraste o meu sonho ainda na boca da noite. Noite que não teve lua porquê o dia não teve sol. 
Adeus Julho___________ e a pueril necessidade de me sonhar os seus dias - azuis - na aquarela do meu viver, levou-me à certeza de pálidos amanheceres e névoa ( tudo é névoa) ate onde a minha imaginação onírica, dizia ser a morada do deus Sol.
Adeus Julho ___________ e seu batismo à receber me em águas salobras agitando a perplexidade do meu olhar de espera e das minhas mãos vazias. 
Adeus Julho ___________ e suas pavorosas esperas -minha incansável crença! Seus rumores - minha certeza, seus temores - minha coragem, seus timbres velados - minha voz rouca, seus dias gelados - meu calor, seu caminhar cabisbaixo - minha diretriz, seus projetos inacabados - minha reta, sua arrogância quatrocentona - minha resignação, seus venenos - minha aura, seus espinhos-minhas flores, seu amargor - meu sorriso, sua indiferença - minha dor.
Adeus Julho ___________ intermináveis foram os seus dias na desconstrução extraordinária do arquétipo amor pueril. Adeus Julho, suas considerações agora tatuadas na minha alma darão um sentindo à minha existência como mulher neste plano.

segunda-feira, 29 de julho de 2019

OBSÉQUIO



Quem não conhece a si mesmo dificilmente será reconhecido pelos outros. Se nos expressamos utilizando máscaras, nenhum processo de crescimento é possível e com o passar do tempo a significação da nossa existência se tornará obsoleta. A grande virtude do ser humano, ainda é a verdade concreta, absoluta, livre de códigos que impossibilitem a compreensão dos fatos. Elucidar ideias não exclui a bondade quer aceitemos ou não, mesmo que optemos por ficar sentados à margem da dinâmica da vida as coisas acontecem no processo natural e invariável. À medida da nossa ignorância é a mesma com a qual julgamos e somos julgados. Recriminamos o outro e somos benevolentes com a nossa 'verdade inexata'

sábado, 27 de julho de 2019

MÍSTICA


Fúnebre é o rito o mito o lixo que assola e consola a ladainha das carpideiras. Funesta é a boca vermelha que se assemelha a flor carnívora provocando aflição e amargura nas nervuras da pele. Ah, tempo insolente preso entre as costelas de Adão adormece e fenece num parto sem cor.

sexta-feira, 12 de julho de 2019

NA OITAVA




A vestimenta desta noite será a mesma de ontem. Os sonhos e as dores viajam em malas de couro curtido [são as tatuagens e as cicatrizes das feridas] não as esqueçamos em qualquer estação, não no despimos delas enquanto atravessamos imensos salões com seus candelabros de cristal. Este dia será lembrado por mim - o dia em que Mozart tocou para Lilith a sua 8ª Sinfonia. Houve pose para fotografias? Seria justo eternizar o momento, a expressão ignóbil, a boca seca, os joelhos trêmulos e a ausência de palavras. Jamais eu podia imaginar: por fora bela viola, por dentro pão bolorento...







quinta-feira, 11 de julho de 2019

DA INSENSATEZ AO SUBSTANCIAL

Ah! Você me pede de dez em dez minutos e eu voo até os seus lábios tantas vezes forem necessárias para matar a sede e depois ficar assim nessa malemolência de quem nada quer. É o que digo: às vezes é necessário apertar os olhos e nada ver das brincadeiras que acontecem na beira do muro. Eu conheço tão bem as linhas do seu rosto e na palma da sua mão a letra do meu nome não faz mistério ____existe!

segunda-feira, 8 de julho de 2019

IN_SUSTENTÁVEL


Como se eu parisse a mim mesma num parto solitário e não visse as folhas nem as flores por estar diluída em azul tão profundo como o céu quando as estrelas em fuga se escondem em arco íris de lascívias mil. Como se fosse possível sustentar o gozo deslizante das palavras nuas e transformá-las em pequenos sóis porque a noite já não é mais de medos ou pesadelos e eu te olhei nos olhos no instante em que pari um sonho e cuspi no espelho.



terça-feira, 28 de maio de 2019

AMANHÃ


Amanhã a cidade vai acordar antes do sol. Não vou gritar e nem espernear debaixo das cobertas, nem tampouco arrancar os meus cabelos ou  queimar incenso de benjoim. Todos os pesares serão como olhos fitos no espelho e com a mesma a estranheza de sempre  ele beijará a minha mão e, cada qual saberá dos ferimentos que carrega na alma. Largas esperas que partem vidraças, afastarão as tempestades carregadas de veneno e fel  e no matraquear das velhas torpes as espinhas de peixe darão lugar aos dentes apodrecidos. O velho relógio da torre girando os ponteiros marcará o nosso tempo, e a estrela que alumia o dia estará nas minhas mãos.

HIBRIDA



Os espinhos perfuraram os meus olhos e a loucura chorou a minha dor. Há um longo caminho a ser percorrido entre o nascer e o pôr do sol, e o meu ser absoluto de vida, se move entre as pedras de fogo porque é preciso exsudar a alma que não me pertence. Haverá um profundo silêncio e o céu em purpura se tornará, e no meu coração o eco das palavras ditas, dos segredos das risadas das promessas e dos sussurros, serão calmaria. E o amor será um renascer na alquimia da pele.

domingo, 26 de maio de 2019

RAZÃO


Preferível é que tudo seja assim, Que a sua liberdade leve o seu coração num voo para outras galáxias e o seu poema seja eterno e a vida, apesar de fria, não mais causará danos. Há um céu azul e nuvens brancas, destas que se pode ler como se fossem poesias para a derradeira musa. 

segunda-feira, 15 de abril de 2019

PRESSÁGIOS


Risos transbordam e  os pés estão cansados
devo chegar mais tarde
não me espere na lua de outono
antes____ vou fumar um cigarro
   Me espere na sua primavera


LÍRICAS


Ontem eu era chão virado. 
Era um grão de poeira na dança do vento.
 Era verbo sem princípio na ressonância da vida
na cor e na dor de todas as sementes
prontas para germinar um novo evangelho.

quinta-feira, 4 de abril de 2019

MOEDAS


Somente a você eu posso dizer que me desvencilhei de toda angústia porque o tempo é uma sombra agarrada aos meus pés e, onde quer que eu vá, não irei só. Eu continuo andando rumo à nascente do rio e as moedas que encontro ao acaso, serão colocadas na sua boca, como pagamento pela sua travessia. Tenho certeza de que os canhões que cospem maledicências  tentam encobrir  o céu azul e fazer dormir o amor estrangeiro. Eis que na modorra da tarde Abelardo caminha com passos lentos, traz debaixo do braço, o pacote de pães que comprou para sua tia. As ruas estão desertas apenas o burburinho no interior dos botecos e casas, revela a presença de vida. O velho casarão tem sua arquitetura iluminada pelos últimos raios de sol, Abelardo sabe que o tempo é como um grande arquiteto  na construção da abóbada celeste, nisso os longos dias se repetem e como um arauto que tem consciência, ele cospe nas mãos esfregando-as a seguir e, aperta o pacote sob o braço sentindo a quentura dos pães. Nas vitrines, os manequins esquálidos com seus olhos de plástico, dormem o sono de grandeza nos sonhos de Abelardo.  As surpresas são os carimbos, a tia, os pães, as ruas, as calçadas, o céu azulecente, a piada sem graça, as frases feitas, o carro, o homem que não cresce, as mentiras, o pão embolorado, a boca sem dentes, a cama de campanha, a galinha guisada, o cigarro, a tosse, os pés e o chão em comoção e tardia espera de um amanhã que não vai exister. Abelardo senta-se na guia da calçada, abre o pacote de pães e afasta os pensamentos enquanto abocanha o pão ainda morno.



quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

VIVÊNCIAS


durante algum tempo permanecemos calados - eu não conseguia desviar o olhar, afastar-me daqueles olhos castanhos, rasgados, inquietos e, ao mesmo tempo tão meigos quanto os olhos de um menino. num instante, nossas vivências se tornaram una - desfez-se toda e qualquer duvida - mesmo as palavras se tornaram desnecessárias e, a linguagem da pele traduziu todos os sentimentos. o que era imaginário, pôde se fazer real e o tempo sorriu na tarde modorrenta enquanto eu me despia de mim mesma, para ser só dele.



imagem: Balanço
aquarela sobre papel Canson
Luciah Lopez


terça-feira, 1 de janeiro de 2019

RESOLUÇÕES


a princípio pensei que tão singular pedido não passasse de um lamento, mas diante da total incapacidade de uma negativa, assegurou-me que o Tempo, embora assustadiço, não passa de um engodo que nos faz compreender os tormentos da alma, sem contudo, exigir com precisão qualquer resposta quê não seja: sim! eu tinha que pagar pelo resgate ou acabava me resignando sem compreender inteiramente. fiz saber das coisas e mergulhei no rio, aceitando a fluidez, comecei a conhecer a inevitável atrocidade que me impulsiona sem medo,a uma perfeição que eterniza o que está por trás da eternidade. a palavra se esgarça com o pretexto de exorcizar-me e, a curiosidade estranha me convence cada vez mais, que os olhos borbulham e as línguas se impregnam dos restos,com os quais narciso se alegra.



imagem: Narciso e o devir
colagem sobre papel Canson
Luciah Lopez