sábado, 27 de junho de 2020

SUPERFÍCIES



O que se pode fazer é observar as criaturas, é simples assim, impossível é acertar ou predizer o momento seguinte ou mesmo quando a borboleta vai abandonar o casulo e ganhar a liberdade num voo.  Essa é a maior das transformações que sofremos ao longo dessa vida terrena - o prazer da liberdade. Na maior parte tempo do estamos tão rijos, tão densos que não percebemos o nascimento das nossas asas e perdemos a urgência do vento em nos levar colina acima extinguindo de vez a nossa servidão. Há algo em seus olhos, algo que o faz tão especial que eu posso me sentar ao seu lado e olhar os pássaros em seus voos extraordinários.  


imagem: Andorinhas 
Aquarela sobre papel
Luciah Lopez





quinta-feira, 25 de junho de 2020

PAISAGENS



Os meus dias estão sendo lavrados e eu divertindo-me com a minha presença outonal. O diálogo existe e eu fico diante do espelho, porque em certos dias, eu sou a criatura esfumada e fugidia, e, noutros eu prefiro morrer do que revelar os meus pensamentos. Hoje eu acordei dentro de um sonho e permaneci assim por horas - no encalço do meu eu. Segui-me através de paisagens insólitas, e , mesmo que elas não existam, eu estava ciente dos espaços infinitos entre a minha realidade e eu. Pensar sobre isso aguçou os meus sentidos em relação as cores, formas, volumes e instantaneamente as flores voltaram a fazer parte do meu caminho.


imagem: Papoulas
Aquarela sobre papel
Luciah Lopez





segunda-feira, 22 de junho de 2020

IMBRÓGLIO


Eu escrevi longos poemas na areia e me esqueci do vento e suas devassidões, sempre soprando o redemoinho da vida na inútil tentativa de renovação. Fixos em mim, eram os sonhos de todas as criaturas, sobretudo aquelas que, tiveram a sorte de nascer aladas. Os meu pensamentos não me obedeciam, e eu me ajoelhava ante o fim do mundo e a complacência dos intelectuais, as palavras eram ditas em demasia e a verdade tinha um hálito revoltoso de mentiras. Houve então, um silêncio e a irrealidade estabeleceu o seu vínculo. Os poemas escritos na areia deram lugar aos sortilégios e atravessaram a úmida penumbra dos tormentos e a dor. A vida tornou-se insípida e o homem caminhou só...


imagem: Imbróglio
Naquim sobre papel
Luciah Lopez



quinta-feira, 11 de junho de 2020

POR DETRÁS DAS CORTINAS



Ele observou as aves e viveu entre aviões e as suas difíceis viagens através da membrana do tempo. Sonho de toda uma vida a negar da realidade, todas as tristeza, guardando em si a consciência ideológica que mantém acesos os instintos vitais. Nada mais me fala à sua saudade, do que manter os olhos fixos no voo das grandes aves, ou nos pequenos pássaros de alumínio que cortam o céu nos aproximando dos anjos...


imagem: Meu pai 


quinta-feira, 4 de junho de 2020

TODOS OS MUNDOS


Através da úmida neblina, a minha figura, acelera a solidão, e alça voo, rumo ao mundo exterior deixando para trás todos os mundos, onde os pecados são como as sombras sem nome e sem atrativos, que sucumbem pelos becos pelas sarjetas, nas calçadas, nos pisos de linóleo frio e se acumulando uns sobre os outros embalam a melancolia de todos os mundos. Lá, bem longe, onde o  horizonte é uma larga avenida que poucos podem caminhar indiferentes ao clamor da morte  - Que fazes aqui?  - perguntou a própria morte ao empobrecido ser humano - ¨Eu busco a mim mesmo" - mas não sendo dono da própria verdade, não lhe serve de amuleto, e, deixa que se vá claudicando aqui e acolá feito sístole e a diástole do fim do mundo.