terça-feira, 31 de maio de 2016

ANTECEDER


ANTECEDER

A escuridão e o grito caminham juntos-, um é a pousada do outro e a insônia cria os corvos que comem os olhos da noite enquanto a caixa dos pesadelos liberta a andarilha. Há um resto de sonho, um balbuciar insone-, quase um mantra rompendo a membrana do silêncio e fazendo eco nas esquinas do tempo. Mujer com ojos de miel - ¿dónde estás?
O ancião caminha a sua frente e o pó dos pergaminhos beija os lábios do vento - a mulher caminha só, levando em suas mãos, o fio da sua própria vida.

 

sábado, 28 de maio de 2016

ALICE, FARINHA & OVOS


Alice, Farinha e Ovos


Cozinhar sempre foi para Alice, um ato de amor e pensando assim, se dirigiu ao supermercado. Precisava fazer um bolo, sentia uma comichão nas mãos cada vez que pensava no "aniversário". Caminhou entre as gôndolas procurando com esmero os ingrediente . Farinha branca 'especial', fermento, leite, açúcar, manteiga sem sal, nata, creme de leite, essência de baunilha, chocolate amargo, leite condensado, amêndoas  e nozes para o recheio. _Agora, faltam as velas e os  ovos selecionados, ovos de 'galinha feliz'-, criada solta põe ovos e faz alarde! -, e sorrindo, partiu em busca de ovos 'caipira', queria um bolo feito com carinho e no capricho. De posse de todos os ingredientes, foi para casa de táxi. Durante o trajeto, o pensamento solto, enquanto olhava as gotinhas de chuva escorrendo nos vidros do carro. Em casa, mudou de roupas, foi pra cozinha se ocupar com a alquimia do bolo. Com tudo preparado, Alice ligou o timer e foi tomar um banho enquanto a massa do bolo, assava lentamente em forno brando. A água morna, o sabonete de buriti, o shampoo e toda espuma deslizando pelo seu corpo criaram uma atmosfera mágica e Alice em completo abandono se entregou aos sonhos. Quarenta e cinco minutos depois, o pequeno apartamento é tomado pelo aroma delicioso do bolo de chocolate com um fundo de baunilha e noz moscada. Ela prepara o recheio  com amêndoas, nozes, leite condensado e despeja uma generosa camada sobre uma das metades do bolo e coloca por cima a outra metade.  Feito isto, cobre o bolo todo com com ganache de chocolate, coloca as velas e um alguns enfeites ao redor do bolo. _Pronto! Tá lindo. E ele merece! Com este pensamento, Alice olha no relógio da cozinha: dia 28/05, 23h55 - está na hora. Alice leva o bolo até a mesa da sala, arrumada para duas pessoas, com uma bela toalha  com detalhes em azul sobre  fundo branco e a louça em azul e branco. Ela está com um belo vestido, maquiagem leve, cabelos soltos, perfume sutil. Exatamente quando dá meia noite, Alice acende as velas sobre o bolo e canta 'Parabéns à você"-, sozinha, em pé na sala do pequeno apartamento no 5º andar de um edifício em Curitiba, numa noite fria e chuvosa. Alice apaga as velas e corta o bolo _ Feliz aniversário, meu amor!


para  LAM,

FELIZ ANIVERSÁRIO!


quinta-feira, 26 de maio de 2016

A GARÇA E O RIO

A GARÇA E O RIO


'Ah, esse rio que passa em minha vida e fecunda a terra árida, fazendo florescer os meus sonhos em cachos perfumados'.
                                                 



-Sabes o quanto eu te quero? - pergunta a garça triste ao rio onde se refresca.
-Não! Responde o rio caudaloso.
-Antes de conhecê-lo, eu precisava de água apenas para refrescar-me do calor, mas ao tocar meu corpo em suas águas puras, nasceu em mim a sede - então bebi de suas águas e agora, fazes parte de mim... Então preciso de ti para viver... Sem suas águas, certamente morrei de tristeza e dor.

E o rio de águas profundas, ficou silencioso. Apenas deslizando por entre a mata... E pensativo olhou para a triste garça branca contemplando suas águas...
E pensou e refletiu e finalmente falou: - Que posso eu fazer, se minhas corredeiras me levam sempre para outros lugares, e tu, aí parada certamente te farás longe de mim a cada instante...

E a garça respondeu: - Tu me levarás no espelho de tuas águas, pois sentirás saudade da minha imagem refletida em seu leito d'água. Serei eterna para ti assim como tu serás eterno em mim. Depois disso, a garça abriu as asas e voou...
...e assim, se fez!...




terça-feira, 24 de maio de 2016

DEGREDO



 Degredo

Os meus segredos a correnteza os levou-, um a um, como se a minha existência fosse um abandono, ou um mal realizado milagre. A imensidão é azul e o silêncio é para o cântico das baleias, o que o meu choro é para a minha angustia ___uma eternidade aquosa. Abandonei-me às promessas dos teus lábios cálidos e aos versos e rimas onde me fiz presente, e nem mesmo a alma do mundo esteve tão plena e tão liberta e ao mesmo tempo, o peso dos grilhões da tua poesia me mantém cativa. É inevitável que eu sofra, pois a existência malograda do amor, pode ser a minha condenação.  E antes que o tempo seja o fio que a lâmina separa, quero purgar todas as dores e nas febres terçã, só o meu desejo faz a sintonia, porque estou só, infinitamente só entre o céu e o inferno e todos os meus segredos agora são seus.



imagem: Jason de Caires Taylor

MONTREAL É AZUL E VERDE

Montreal é Azul e Verde

Um único momento, já amadurecido entre coisas nada vulgares_____ é capaz de ser azul e verde. Assim, feito a sua aura ao som de Montreal,  se torna tão suave que é possível compartilhar das cores e Montreal pode ser mais que uma música-, pode ser a celebração dos seus sonhos porque a sua idade é a minha idade, e não é ilícito sonhar quando a alma deseja os sonhos. O temeroso crepúsculo pode até nos perseguir, mas a Vida obedece o caminho que escolhemos, é claro, podemos escolher a infinita solidão ou a mais louca aventura de viver. Os dias podem ser resumidos a horas sem nexo porque fazer sexo ao som de Montreal tem um outro sentido mais amplo -, como: a comunhão, o fazer amor, a fusão, o dois em um, o azul e o verde rompendo a abstinência e se preparando para comemorar os todos os renascimentos e caminhar lado a lado, porque você era o meu segredo e tardou a ressurgir____permaneci imóvel até você dizer o meu nome desnudando a minha alma de existências anteriores. Dentro do seu coração, tudo já é luz e a música é maravilhosa. Vem, dê-me a sua mão nessa rua -, vamos dançar!





domingo, 22 de maio de 2016

PERFUME

PERFUME
Acompanham-me densos temores, tal como num sonho o seu perfume inebria os meus sentidos, levando-me por galáxias e constelações à procura do culto absoluto ao seu cheiro e as verdades que nunca sabemos. Sobre o fundo azul a provocante delícia da sua pele e o encontro mais íntimo, entre o pássaro e a serpente, experimentando a angustia do delito da carne. O amor e o desejo sempre superior a mim e a minha feminina realidade de ser assim_____tão sua! Tão sua, que todos os sonhos brotam espontaneamente de mim na mais nítida certeza, do que é o amor. Algumas vezes, os medos assomam -, é difícil descreve-los e não menos doloroso, é senti-los na tentativa de impor-me a solidão e a ausência do seu cheiro, num contínuo ardor a queimar a minha pele. Não obstante, a sua presença em meus pensamentos, é como a explosão e a criação de novas galáxias, vibrantes de cores e sons a completar todos os vazios existentes em mim. É demasiadamente tão belo o pensamento, que eu prelibo seu beijo.


para Odur

 

quinta-feira, 19 de maio de 2016

LUA/ALMA


LUA/ALMA

Não será no sexto dia do mês, como um tributo à Artemis, mas a lua/alma em plenilúnio   aos meus olhos, será como o farol___ ao navio perdido, em noite de tempestade. Será lua cheia, plena, esplendorosa e todos os seus mares-, serenidade serão. E o meu navio que a própria rota inventa, me levará ao reino dos sonhos, onde outono e primavera  se encontram nas flores de maio. Ah, lua cheia, que a tua luz acenda o meu olhar e que o infinito seja logo ali, onde o céu beija o mar e as estrelas bordam o chão de rendas de espuma. Lua/alma, alma/lua-, que a tua aura de luz seja o teu anel lunar, símbolo do teu compromisso com a felicidade para além das horas e de todos os sonhos que ainda venha a sonhar. Que o seu brilho seja doação e a tua voz na liturgia do Tempo seja o eco na antífona do teu existir.


EXSUDAÇÃO




Exsudação 

Anoitecidos são os pensamentos que não dão brecha para o sorriso ou para a deliciosa sensação do gozo de amar. O vento costura as nuvens onde quer que o meu olhar faça parada  e uma dor que começa fininha e  silenciosa, vai se tornado cada vez maior e se agiganta dentro do meu peito_________ até que eu nem saiba mais, se a dor é minha ou não. Sinto o meu rosto queimar enquanto os meus pés, enregelados se tornam brancos, me dando a certeza de que eu já devia estar na cama embaixo das cobertas. Mas na minha cabeça, os sonhos e no meu coração uma angustia que não é minha, mas que me toma de assalto e me joga no canto sem saber pra onde ir. E mesmo que soubesse, eu não iria________não agora, não agora. Seria como fugir de mim e isso é uma culpa que não carrego-, você vive em mim e tudo que flutua ao redor, faz parte dessa consciência plena que se coloca à luz de toda verdade. Somos, viajores, cada qual com a sua dor e carentes de aprendizagens, nos sentamos em balanços esperando alguém nos empurrar pra lá e pra cá até exsudarmos as nossas culpas ou até que própria pele esteja tão enrugada que alma não possa mais sair.


terça-feira, 17 de maio de 2016

MAIO





MAIO

Na lareira, o crepitar da lenha faz voar vagalumes incandescentes que festejam o meu olhar enquanto o chocolate quente faz a vez dos seus beijos. Na janela, a cortina entreaberta, deixa uma réstia de céu e a palidez da lua de outono desenha a copa dos pinheiros. O silencio é quebrado pelo canto das garças em seus ninhos, nas árvores da praça. É outono-, e tudo está diferente, até a minha vida está diferente. Entre um gole e outro do chocolate quente, eu percebo um gosto suave deixado pela pitadinha de noz moscada, esse pequeno detalhe me faz imediatamente, lembrar de você. A pergunta surge na hora _Será que ele gosta de chocolate com noz moscada?! _, e pensando assim, me vejo tomada por um sorriso e um suspiro profundo acompanhados de um 'levantar de ombros' simulando um abraço, que me deixa muito mais feliz. Descobrir os seus gostos está sendo maravilhoso e cada detalhe é especial, porque o Amor é assim____especial e as nossas diversas idades são como a pitadinha de noz moscada, é o que nos torna singularmente claros aos olhos de quem nos observa, não por curiosidade, mas porque nos ama. Os vagalumes saem das chamas e são tão lindos que eu ficaria a noite toda, aqui, olhando o crepitar do fogo, não fosse o frio dessa noite de maio e a urgência de sonhar com o calor do seus braços.



segunda-feira, 16 de maio de 2016

SEUS OLHOS


 Seus Olhos

Amar-te é muito mais que existir porque o meu simples existir, seria insosso se não houvesse você. E o acaso, esta feliz e satisfatória corrente que vai unindo aqui e ali, não nos uniu_____ apenas revelou. E uma vez revelado e feliz e satisfatório, ao amor foi dado o momento (breve) de fazer-se e acontecer. E dizer-te do que levo comigo não me torna única, nem imune às coisas que ferem sem contudo, sangrar-, incalculável é o pensamento que me toma de conformidade com o silêncio... Amar-te, me proporciona deitar-me licitamente mulher e não como a menina de outrora - quantas mudanças este seu grato amor me proporciona?! Não saberia enumerá-las, mesmo que pudesse______agora, olhar fixamente em seus olhos - o meu íntimo se calaria diante de ti, porque o amor que eu te tenho, suplanta a ausência, mas não, a alegria, imensa alegria de olhar em seus olhos, amor.
.

CONSIDERAÇÕES


CONSIDERAÇÕES
Há um riacho que separa os tempos e um sol inclemente que acende o olhar dos djins, enquanto o coração grita, tentando entender o significado das palavras____escritas de sangue na poesia da pele. O vento castiga os ramos do salgueiro e chora ante o sono que encerra cada sofrimento fazendo marejar os olhos do velho mulá de barba branca. Em seu coração, ela ouve-, enquanto com seus lábios ela diz: " Se você se for, eu morro. Simplesmente eu morro". A mulher nuvem_____inatingível, intocável em sua dor, desenha um dragão que carrega as suas esperanças dispostas em prateleiras, empilhadas e escondidas em casas de barro. A noite atapetada, toma impulso na lua que cochila e cobre com seu véu, a cabeça dos noivos, aproximando os olhares no falso espelho d'água. Os cabelos crespos, o miolo da maçã a aliança a boneca de pano, o anel de pedra da lua... O doloroso grito e a voz para sempre muda. Uma pedra. Duas, três, quatro... Um corredor, uma estrada longa demais para ser percorrida sem alguém que lhe sustente a mão. Saudade... Que choro é esse, que só chora em ângulo reto?! Mariam jo... Um ritual diário de sonhar acorrentada por debaixo da burqa, risca e rabisca um nome de luz e o seu próprio nome - o MEM, o REH, o YA e chora a própria existência enquanto tenta entender a história beijando a fotografia no porta retrato. Harami! Harami! Quem pode culpá-la por ser bastada, se Deus a fez assim, aldeã e mulher?! Que sentido efêmero tem um beijo repartido ao meio qual asas de borboleta?! Um beijo pendendo do varal da boca... da boca?! Porquê, afinal, Mariam costura olhos de boneca esperando por uma lufada de vento seco? Seiscentos e cinquenta quilômetros é a distancia?! Não! Muito mais. Três mil quilômetros são poucos para esta distancia. -Onde está o meu coração?! Ouço o seu choro e o meu agora..."A Allah pertencem o leste e o oeste, e para onde quer que vos volteis lá encontrareis a face de Allah..." Nunca se esqueça disso, porque agora, lambem-me, as línguas de fogo e sangue e nas calçadas de pedra, o grito ecoa - escrevendo num pergaminho aveludado todas as lendas que o mensageiro trouxe. A cidade é vermelha agora e a sombra corre solta pela rua envolvendo os minaretes, descobrindo a poesia de Nezami porque os séculos se repetem. Apenas se repetem...Mulher do sonho, mãos de anjo, Mariam jo colhe as pedras e as joga fora antes de criarem raízes. A primavera não quer mais chegar, mas foi Deus quem plantou as flores verdes enquanto ela ainda dormia.Quem plantou os sonhos? Quem?! Não é adequado sonhar enquanto os mísseis ainda estão nas tuas mãos e ainda explodem no meu peito como estrelas, revirando as páginas desta história, fazendo a pele arder na carícia da chibata.Os mortos são os inocentes que sangram em silencio... Mariam jo, agora sabe disso e improvisa um sorriso fechando os olhos e os sonhos. O silencio e as borboletas... Milhões delas. Borboletas lhe contam histórias sobre um lugar que não existe, assim como ela Mariame jo, que também não existe mais. Aperta as mãos e sente o anel de "pedra da lua"...Abre os olhos enquanto caminha pisando na própria sombra e na sombra de seu carrasco. É silencio agora.


domingo, 15 de maio de 2016

ACALANTO





Acalanto

Quando eu fizer um sinal, me abrace e na distância do seu coração, me cante acalanto  e se faça presente. Seja a minha brincadeira preferida, o meu abraço mais forte-, a presença única que viaja pela minha existência sem que haja noite ou dia, além de todo meu bem querer. Exista para mim, assim como a flor, é para o caule e a sombra é para o caminhante. 
Seja o amor que ama sem o propósito do Tempo, seja livre dentro do meu amor e a completa experiência de amar. Seja a água, seja a luz, seja a  fome e o alimento. Seja o caminho e ao final da caminhada-, seja o aconchego do sono num abraço sem fim.



 

sábado, 14 de maio de 2016

ALICE E A VOZ DO VENTO


Alice e a Voz do Vento



As portas do templo estão abertas e o cheiro da vida emana!


________Alice fez as unhas usando esmalte preto. Não tem tempo para lenga lenga e já se acostumou aos ditames do sonhos, cada vez mais improváveis. A contemplação e os gestos de nobreza revelam a alma de Alice e as relações humanas, as convivências, as tentativas de conhecimento vão celebrando  o amanhecer. De súbito, uma porta é aberta _É você?!-, pergunta Alice, indecisa, ainda com os olhos tomados pelo sono, mas com o seu tom peculiar, o vento sopra a resposta. Isso não devia acontecer, não assim, durante a madrugada onde  tudo é possível. Alice sabe do mundo sombrio, do tempo e dos limites, e a sua expressão permanece inalterada _Não adianta chorar, nada se resolve com choros e lágrimas!-, e com este pensamento, Alice vira para o lado ajeitando a coberta sobre os ombros e adormece.


MADRUGADA



MADRUGADA
O canto de uma ave noturna rompe o silêncio da madrugada com o mesmo som de porcelana sendo quebrada. Meus olhos embaçados pelo sono, relutam buscando as formas do quarto na semi escuridão.Hoje devia ser mais um dia igual a tantos outros e mover-se ensolarado respondendo a perguntas que se fazem no decorrer das horas. Certamente será mais um dia frio-, é bem possível! Seja como for, terei aprendido mais uma lição e mais uma camada se sobrepõe à minha pele, numa espécie de escudo - e que sabe um dia eu acorde totalmente pedra?! Ah, essa minha imaginação onírica...

sexta-feira, 13 de maio de 2016

ERA UMA VEZ, ERA MAIS QUE UMA VEZ



Era uma vez, era mais que uma vez

Era uma vez, mais que uma vez o meu olhar te desenhou e o meu rosto levemente afogueado deixava ver o que se passava em cada pensamento -, tudo era motivo para sobressaltos  e a espontânea vontade de tragar cada beijo, que eu sabia existir na sua boca, ah, a sua boca bandoleira, assim como os seus olhos, tão sem paragens. Era dezembro e as luzes enfeitando as árvores da praça, criavam uma atmosfera enigmática, mas era dezembro, uma vez mais. Além disso, o meu coração não estava vazio e podia ser dezembro tantas vezes mais. Essas coisas são simples de entender-, estremeci logo no primeiro olhar e nunca mais você saiu de dentro de mim. Caminhávamos juntos, de mãos dadas, pelos corredores do meu paraíso, todavia, para cada sonho sempre há o retorno à uma realidade muitas vezes triste. Mas a única coisa que eu sabia e ainda sei: Era uma vez em dezembro, era uma vez 2008, era uma vez você, para sempre você.


pensando em Odur 

quinta-feira, 12 de maio de 2016

QUANDO TE VI

Quando te vi

Pressentimentos de quem quer do amor toda danação e o culto absoluto-, devoção sem mais querer, foi tudo que eu senti na aceitação daquele momento, quando te vi. E a ilusão andou comigo vislumbrando a  própria sorte e depois o amargo gosto da resignação assegurando o empalidecer das horas sem o afeto que me fizesse compreender a estrutura do amor. Emudeci e senti crescerem em mim os sonhos, como desdobramentos da memória nos quais você permaneceu em sua iridescência indo e vindo, como se soubesse que devia assegurar a sua presença nos meus mais íntimos pensamentos. Existíamos um para o outro assim como a lua e o sol e o resto do universo, para mim era inteiramente um equívoco. Não havia mais liberdade que pudesse me alcançar ou que eu desejasse mais, que a liberdade de caminhar os seus segredos e trazer o riso  como alimento aos seus dias. E o calor e a luz, todos os sentidos e toda religião que se faz amor sem que haja a insegurança de confessá-lo. Quando te vi -, os meu olhos já não eram meus e nem o meu coração ou mesmo a alma que me habita -, esta, já estava ao seu lado. O que fosse um sorriso, tornou-se em espera, e eu contei os dias, os meses se tornaram anos e a espera esboçou um sorriso para cada surpresa e tão tensa eu me sentia que não sabia o que dizer - então calei  e dormi. Sol e lua e as mão do Tempo numa carícia sem pressa assim, feito a sua mão passeando pelo meu decote...



 

terça-feira, 10 de maio de 2016

ANÁTEMA


Anátema

_____a noite havia caído entrelaçando os primeiros segredos a emergir -, a princípio não consegui esvaziar a mente de toda ansiedade e defronte ao espelho, minha imagem me pareceu tão brilhante e ao mesmo tempo tão frágil. A janela aberta, me obrigava à noite cada vez mais densa, como a capa aveludada de um livro que me propus ler. Logo a chuva se aproximou intensa e contínua na umidade mística da antiguidade que carrega em seu bojo d'água e o momento se desvaneceu. As criaturas da noite, fixas em mim se rebelaram ganhando asas - voaram através do impossível, restando ao meu olhar a imagem no espelho conjurando céu e inferno e a busca pelo sentido da vida eterna. E aquela música fazia girar o cata-vento da memória enquanto a noite continuava caminhando convulsa, apoderando-se do que eu era  na permanência de todos os desejos vis. A certeza eriçada me fazia ver com sobressalto, que a noite é a metade de mim e a outra metade é você.



imagem: Roberto Ferri


segunda-feira, 9 de maio de 2016

NAVIOS E SONHOS


NAVIOS E SONHOS

Os meus sonhos são como navios -, ora sobre ondas em mar revolto, ora em naufrágios em silencioso abissal marinho. São como casas para os seus peixes brancos que me navegam em noites de lua cheia,  o incômodo evangelho do amor ausente. E as suas palavras são como as algas, acariciando o início e fim do que eu chamo - corpo. A vida traz as respostas e a boca cria o silêncio e o fundo do mar envelhece a busca e te faz tão meu e eu tão sua na proporção que a vida inventa os sonhos. Descubro-me, revelando as planuras e toda agradável sensação de bem querer, quando sonho teus peixes navegando as minhas águas abissais.



AS PERGUNTAS SE RESPONDEM

AS PERGUNTAS SE RESPONDEM

O destino pode ate querer o seu fim, mas é o princípio do ser humano que carrega o significado da Vida. É um código entre Deus e o Homem. As perguntas se respondem  a medida que evoluímos e passamos a crer em nós mesmos. Os monstros que guardamos no armário tem exatamente o tamanho da nossa fé.


INICIAÇÃO

Iniciação

É preciso sentar-se à sombra da Grande Árvore
e calmamente despir-se da alma
e lavá-la em água cristalina
para adentrar a Casa do Silêncio.



CANTILENA


Cantilena

O que eu fiz foi simplesmente sentar-me ao seu lado e a incompletude do meu ser deixou de existir. Eu estava convicta da minha criminosa solidão e já sem acreditar que seria possível abandonar tal estado lastimável; fiquei momentaneamente em saber o que pensar ou mesmo o que dizer, pois tudo acelerou dentro de mim. No instante seguinte, eu já não era capaz de sequer, de cerrar os olhos, sem que a alegria estivesse estampada no meu rosto. A descoberta de um mundo no qual a felicidade é mais que uma simples palavra, me tornou profundamente viva e a quietude da alma e o instinto de divindade apresentou-se na sua forma humana. E eu não tinha melhor lugar para sentar-me, que não fosse, ao seu lado, para depois visita-lo ao termino de cada dia para ouvir a cantilena de cada noite. 

domingo, 8 de maio de 2016

PAPIRO

Papiro

_______  estranho e inquieto é objetivo Tempo. Traz as lembranças e o amor desenhados na pele alva dos papiros. E no retorno à claridade dos dias, insisto em perguntar: - De onde eu o conheço?! Não há caminhos entre os veios da memória, que eu não os tenha percorrido, sem contudo, encontrá-lo. Haveria talvez, um outro caminho, que em algum ponto tenha se cruzado com o meu e assim, deixado as suas marcas indeléveis para que pudesse encontrá-las?! Os meus ouvidos são acostumados às suas palavras e a sua risada faz eco no meu coração. As marcas que no pó da eternidade servem de molde aos seus pés, e as suas mãos se encaixam nas minhas mãos, como se o fossem correspondentes pares. Minha sombra reconhece a sua sombra e na minha boca -, a sede é da água da sua boca. Os seus olhos enfeitiçam o meu olhar tal qual nachash enfeitiça o olhar do pássaro. Minha alma se perdeu da sua alma e havia de sofrer o medo da solidão absoluta - a noite sem lua e nem estrelas. E todas as manifestações de tristeza se passaram por mim e antes que me pudessem consumir, me sentei à sombra da grande árvore e  perguntei: - De onde eu o conheço?!  E a serenidade da resposta, foi como o perfume dos narcisos, que à beira d'água, desabrocham  seu olor  embriagando nosso olfato, nos dando a salvação de sermos dois em um.

pensando em Odur 


quinta-feira, 5 de maio de 2016

O VAMPIRO E A CRUZ

Quando nos apaixonamo,  perder a razão, a lucidez e deixar de enxergar coisas evidentes é o mais comum. Em outra situação, saberíamos como proceder e qual atitude mais óbvia para evitar choros e lágrimas quando não se sabe o porquê. É triste constatar que pessoas se satisfazem de maneira torpe ao saber serem amadas, desejadas por outra. É triste, ter que desatar os nós da paixão, deletar os sonhos assim como se deletam palavras mal escritas. Quem ama - ama, mas quem é amado nem sempre ama. Nem sempre pode ou quer amar da mesma forma que é amado. Fomentar uma paixão da qual não se quer nada além que "uma válvula de escape" para aliviar a tensão ou mesmo como fonte inspiradora de belas palavras -, isso é o mesmo que matar, assassinar a outra pessoa. É roubar o que de mais precioso, o mais puro de sua essência e  menosprezando o amor  como parte de uma brincadeira inconsequente. Somos presas fáceis quando nos dizemos apaixonados, quando revelamos os nossos anseios, os nosso sonhos e passando a dividi-los. É extremamente doloroso quando a noite chega acompanhada de surpresas fazemdo entender que tudo era só uma brincadeira e que se danem os nossos sentimentos tão ingênuos, tão pueris - afinal, tudo se resolve assim, como o vampiro que sempre foge da cruz!



quarta-feira, 4 de maio de 2016

MESTRE


 MESTRE


Dá-me a tua tristeza porque dela é feito o pão que alimenta minha boca e do teu suor sempre a verter em tua fronte - dá-me de beber!
Apascenta, pois, a sede que só faz retesar meus lábios (mudos!) e nas dores do teu caminhar (vacilante) ante o peso do cansaço a vergar-te prumo na sombra do meio dia, aconchega-me reverbera meus olhos na brancura do teu olhar infinito olhar de ave sem ninho...
Dos teus medos - quero saborear apenas a casca, conjugar o céu e o mar presos no infinito labirinto da tua mente quando ao anoitecer a elucubração toma o teu espírito branco alvo indelével...



terça-feira, 3 de maio de 2016

CÉU, MEU CÉU


Céu, Meu Céu

________e tudo que eu mais queria era olhar o céu, em sua companhia! Contar estrelas cadentes, sorridentes tão brilhantes no espelho dos seus olhos.E um pedaço da lua pendurado no "canto" do céu___quase caindo, mas ainda sorrindo, só pra te fazer feliz!E o planeta vermelho e uma chuva de meteoros faiscando feito pirilampos boêmios acendendo_______apagando iridescência ao seu olhar. E os anéis de Saturno, bem ali, feito alegorias ao alcance das suas mãos... ... era tudo que eu mais queria, a tranquilidade dos mares da lua as lunações as estrelas os  cometas as galáxias o infinito e a infinitude deste meu amor só por você. ____ era um céu que eu queria desenhei um céu, só não consigo desenhar você...

.
imagem: LL 


domingo, 1 de maio de 2016

HORA DE DORMIR



Hora de Dormir 


Chegou a hora de deitar-me. A janela filtra a luz da lua criando desenhos na parede _____alusão a Kandinski?! Um sopro de vento frio balança a cortina e desfaz-se os desenhos, a parede volta a ser nua e a nudez da parede é como a minha nudez, e eu penetro a dolorosa sensação do vazio.
Excepcionalmente, eu  consigo esquecer o vazio, mas durante a noite, à hora dos pesadelos eu me sinto incitada a fazer perguntas desordenadas como se fosse possível obter uma resposta não irônica, não trágica, uma vez que a minha capacidade de entender as particularidades contidas em falsas verdades é bem acentuada. Novamente uma lufada de vento frio move as cortinas. Está frio, mas eu me sinto muito a vontade assim, e mantenho a janela entreaberta e o vento frio da noite resfria os meus pensamentos enquanto eu me aqueço debaixo do edredon. Os meus olhos estão tão cansados, mas ainda buscam as palavras que não chegaram, ainda evocam a figura que está guardada no meu coração e o Tempo parece mesmo que não tem fim...
Eu percebo que Asgard é assim - um sopro.
Ah, deixa pra lá, melhor voltar à realidade, este fiel antídoto que tomo aos goles
antes de dormir e que me mantém viva, mesmo no meu pior pesadelo.


imagem: LL