sábado, 21 de julho de 2018

ÚLTIMA CRÔNICA


Num instante a vida virou de ponta cabeça! 
____ um fonema virou poema um beijo virou um queijo e a noite coquete chafurdou em ais e tais num despertar em falsete. Mas a vida é tão bela, e não tem porta ou janela nem zíper ou taramela pra fechar a boca do mundo. O poeta é falsário, a poesia um rosário a felicidade é um aquário____ nadar em círculos fortalece o peitoral e dá mais força ao trapézio equilibra o 'triangulo' e faz do olhar ____um ângulo trepidando cai pra lá, cai pra cá. Dentro de cada armário um monstro que nos visita em sonhos gélidos de pavor, mas o amor mora logo ali e sempre pode nos salvar - a todas (os) - é só uma questão de 'ficar na boia". Hoje fui a Montreal, levei um presente, mas não tinha ponteiros - levei sementes, mas elas não germinaram - morreram de leucemia. Voltei para casa volitando entre as palavras e estrelas, sem perceber o peso do sabre no meu pescoço - emudeci feito um livro sem páginas e acordei com o sol diferente iluminando o meu quintal. Olhei para as minhas mãos, estavam vazias mas no chão, sombras de muitas mãos. Umas acenavam, outras se acariciavam, outras me indicavam direções contrarias querendo mostrar que toda espera é em vão. E por que não?! Mas a fogueira ardeu com precisão, abriu uma clareira fez fumaça, ardeu os olhos no espaço onde tudo é luz e tudo esta ligado a essa luz que flui para mim, afiada e mortal como corte da navalha na insignificante presença orgulhosa permeando a escuridão. Depois disso, perdi o sono-, rabisquei apressadamente num pedaço de papel e guardei sob o peso Tempo. Guardei sem ao menos fazer uma leitura, mas desejando que fosse uma crônica alegre... não sei a razão do pensamento, mas enquanto eu preparava o café, me lembrei de Sabino: "Assim eu quereria minha última crônica: que fosse pura como esse sorriso."

Luciah Lopez.

domingo, 15 de julho de 2018

NEM TUDO É LENDA



O que me encanta é essa maciez da sua pele e os seus pelos ao vento das carícias plenas. O que me encanta e me faz perder o juízo, é a 'fundura' do seu olhar e o rastilho de pólvora que é o seu pensamento. Ah! se o tempo parasse agora e a noite pudesse nos livrar desse abismo que nos separa, não haveria mais escapatória-, seríamos a conjugação do verbo amar.

ENTRE O DELTA E A ESPADA



Por que foi, que Deus criou a mulher com seus versos alcalinos e seu olhar profano? Deu-lhe alma possuída de pecado e santidade – prostituto desejo de amar esmiuçando a carne e o ventre em rosa flor. E tu, em adoração e ternura na orgia exaspera a carnadura, entregando-se à tortura de amar sem ter razão. Entre o delta e a espada - a flor e suas pétalas - orvalho, manancial, vertente de peixes nadando na imensidão do teu rio de infinitas mortes, sem nunca saber quem é cativo de quem.


imagem: Roberto Ferri

sexta-feira, 6 de julho de 2018

HUMANOS



_____ anoitece tão rapidamente e os fantasmas saem de seu silêncio sepulcral. Quem chora a aventura de um pensamento, não sabe da alegria da chuva que mergulha no mar. O meu olhar comete o pecado, mas a sua palavra é a salvação que acomoda no meu coração, a sua condição de menino. Sou a veladura na sua imagem, livre e adequada à imensidão do amor e onde você estiver, eu serei com você a resposta e a certeza do ontem e do amanhã na discrepância do tempo, porquê o amor, eu sinto dentro de mim e entendo a sina de quem vive os próprios sonhos.



imagem: Alicia Tormey

ROTA


Percebo que a rota é longa e eu só confio em gente que se espreguiça entre um bocejo e outro e não se cala diante do inesperado. Não é de tristezas ou remorsos que o caminho é traçado e não se agasalha a solidão em pratos de porcelana ou sangria em velhos copos de cristal lapidado. Eu não navego à toa -, meu navio tem leme. Entre mar e terra tudo é opaco, e morrer não significa o fim, apenas  o começo de um outro voo de natureza humana. O vento não aguenta a solidão e estende as asas para qualquer lugar. Eu voo por aqui e não existe uma distância que não possa ser vencida no sopro desse vento. Haverão outros dias, outros caminhos mas uma só direção.


segunda-feira, 2 de julho de 2018

AVESSO DE MIM



O vento que açoita meu rosto levanta a poeira dos cabelos do milho acariciando os grãos adormecidos no ouro de cada dia. Meu grito engasgado amarga a minha boca e acorda o pássaro que me habita as entranhas. Sua agonia e dor me causam sofrimento enquanto que com suas asas me acolhe em porte de cruz. O seu cantar é pura tristeza quase um lamento que não cala e não arrefece fazendo do meu coração altar onde a minha alma é imolada dia a dia. Este pássaro quer voar, sair de mim, ganhar altura entre as nuvens e olhar o dorso da grande cobra d’água, solitária, adormecida entre a canarana nas rebarbas do rio. O meu pássaro viajante me dá seus olhos para eu ver mundo, a dor e seu coração para que eu possa viver mais um pouco e alcançar as cores da aurora boreal.


NA TUA PELE / UM POEMA VIVO


Quero um poema vivo.

Quero letras/línguas
lambendo a pasmaceira do meio dia/hora inteira
na memória variante
que resguarda a tua ausência.
Quero devorar a contemplação da tua imagem
eterna – gravada em mim – partícula que me navega
onde quer que eu vá...
Sabor da tua saudade [quero] no eco das tuas risadas
e nas palavras entre[cor]tadas
no teu silêncio/boca/fome de mim
tua fome em mim [quero] sempre assim.
Entre a perfídia e a sombra que assombra
quero mais de você
mais muito mais que um simples e solene beijo.
Quero os teus sonhos, as  tuas verdades, as tuas risadas, os teus voos, as tuas dores, os teus suores, as tuas cicatrizes - as tuas incertezas.
E da tua pureza, quero a pressa com que me acalmas
Quero a lascívia do teu corpo
No fôlego da tarde [catando prazeres]
Nos deslizes da minha língua na tua orelha...
quero amar o teu amor menino
entre as paredes nuas
e o chão riscado que esconde os olhos
porque eu te amo.

Voo nos teus braços/voo de pássaro aprendiz...

...buscando pouso nas tuas mãos (...)
Eu quero amar um poema vivo
Quero o poema na tua pele
Sou o poema que
eu escrevi...


para Odur LAM