quinta-feira, 20 de setembro de 2018

EXISTÊNCIAS




É dele a voz que me acalmou 
me resgatando de mundos que transfixam corpo e alma
na indulgência do amor distanciado.
É dele a presença iluminada 
brancazulada que tira longe os despojos e as dores
que ferem os meus pés na impiedosa travessia dos séculos.
É dele a boca que me deu o beijo
sal da vida nas primeiras horas da minha existência.
É dele a mão que me ampara e cura as minhas feridas
embriagadas de desejo nas profundas do meu ser mulher.
É dele a certeza do amor porque eu me despi diante dos seus olhos
e caminhei nua no seu coração 
e sou eu quem bebe o gole de absinto e fel
enquanto os dias saltam do calendário preso em paredes imaginárias.
É dele a pele, os pelos, a verdade, a mentira, a sede, a fome, a febre, a dor
a vértebra desviada, o sangue, a saliva, a urina, a noite e o dia
o sol no riso solto, a lua no olhos inquietos.
É dele o meu amor, a minha veia, o meu sangue, o meu pulso
o meu riso, porque eu chorei e morri a minha morte pra renascer
todos os dias e noites na musica da sua voz.
É dele o meu amor porque não se explica a existência da alma
nem a covardia de não saber amar.




segunda-feira, 17 de setembro de 2018

SOPRO


o tempo parou no instante em que as suas mãos tocaram as minhas coxas
enquanto eu me 'amontava' sobre você tal qual Coco e Stravisnky,
lá fora o mundo caía aos pedaços na modorra da tarde e nós dois, um dentro do outro na completude do ser nos fazíamos criaturas divinas e pelo viés do meu decote meu seio na sua boca alimentava o menino de ontem e o homem de todos os tempos .
sou a cria de todos os seus desejos batizada no seu gozo, apaziguando as minhas entranhas - carne vermelha - alma transparente no reflexo dos seus olhos para sempre presos no meu olhar.


Luciah Lopez

domingo, 9 de setembro de 2018

VÉRTEBRAS


Acordei dentro das suas dores, como parte das suas vértebras, da sua coluna, do seu eixo.  Sou parte da sua medula, do sangue doce que corre pelas suas veias, vasos, artérias, vênulas. A dor dos seus punhos, do seu 'muque',  é nas minhas mãos,  feito o seu cansaço buscando o aconchego das minhas palavras, porque não estamos sós, nunca estivemos e nunca estaremos. Sou parte sua, parte da sua dor, parte do seu êxtase de viver e sonhar a ancestralidade da carne que desaguou dentro de mim e agora navega os meus rios de infinitas corredeiras. Todos os unguentos estão nas minhas mãos, que se perderam na geografia da sua pele entre afagos e suores restituindo a sua paz.

para Odur