domingo, 16 de outubro de 2016

INDAGAÇÕES

Indagações

Tantos são os dias que separam a tua existência da minha que as palavras perdem o sentido, tornam-se indagações quando deviam ser carinho, um descanso, um conforto de abraço, um sabor de beijo. O abando vai esfoliando a pele abrindo caminhos, expondo a alma, que uma vez nua - se esconde - no silêncio e na saudade que não sente vergonha de ser. 




quarta-feira, 12 de outubro de 2016

A PRESENÇA DE AUDREY


 A Presença de Audrey

Indescritível era aquele sol morrente espiando pelos poros da cortina enquanto os meus olhos passeavam a suavidade daquelas palavras. Eu não sabia onde depositar o meu olhar, se,  nas frutas sobre a mesa ou pelas paredes com seus hóspedes silenciosos e belos. Nossas risadas marcaram o tempo na ausência de relógios e seus ponteiros afiados qual lança quixotesca. Fixo em mim só havia um pensamento: A felicidade é tão clara e tão precisa que ilumina! Este pensamento só foi interrompido pelo tilintar das xícaras sendo colocadas sobre a mesa, enquanto na cafeteira a água se preparava  para extrair do café, a cor o aroma e o sabor forte e amargo. Toda uma eternidade se fez entre o ferver da água e o derrame daquela bebida quente e perfumada. Um violão e a sinuosidade musicada ganhou vida.  A música saiu dos lábios e do risos dos olhares, na transparência do que eu penso ser a felicidade. Então aconteceu a alquimia da água e do calor e o cheiro do café tomou conta do ambiente. Foi nesse instante, que ouvi um ruido à minha diretia e quando olhei de soslaio, qual não foi minha surpresa ao ver Audrey descendo do quadro preso à parede, vindo juntar-se a mesa para uma xícara de café ( ! ). Fiquei muda, sem ação não podia arrancar de meu interior a surpresa de tal fato. Me pareceu tão íntima e era-me de sobremodo impossível qualquer comentário - me calei -  Audrey serviu-se de uma xícara de café e graciosamente em sua beleza, sentou-se junto a nós apoiando os cotovelos sobre a mesa e arqueando as sobrancelhas olhou-me. Por um instante esperei uma palavra, no entanto ela apenas olhou atentamente para logo a seguir baixar os olhos para sua xícara de cafe e bebericar delicadamente enquanto ouvia a musica____talvez um tango ou um bolero ou Pink Floyd. Foi numa tarde de domingo...




foto: Audrey Hepburn
Bonequinha de Luxo - 1961

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

OLHAR ATRAVÉS DAS LEMBRANÇAS



Olhar Através das lembranças

... é tristeza?! Não sei ao certo, mas sinto um aperto no peito
cada vez que me lembro do olhar tristes dos bois em sua marcha bamboleante levando no lombo um ou dois anus a lhe comer os carrapatos.A poeira que vem ao longe, vem misturada com o cheiro do estrume fresco e ao passar pelas capoeiras ainda encontra uma 'brecha' para trazer o cheiro das flores, aquelas, bem miúdas e perfumadas aquelas que ninguém olha e nem sabe o nome. A boiada caminha sem pressa, sem tempo, sem hora, seguindo os passos um atrás do outro, vez em quando um mugido longo e triste quebra o silêncio da tarde modorrenta. Escorada num velho troco de bapeba, eu deixo o olhar acompanhar o desenho das nuvens________ o que vem lá?! A chuva talvez... Me pergunto: que gosto tem essa chuva que traz em seu bojo o cheiro da "bosta fresca" dos bois?! O vento se amoita na copa da velha árvore e eu entrevada, me perco no redemoinho de folhas que desce antes mesmo que a chuva se de conta. O tempo dos bois, é o mesmo tempo que me prende nas lembranças.




quinta-feira, 6 de outubro de 2016

IRMÃO



IRMÃO

Há uma agonia que me trespassa a carne os nervos e a brancura plana dos ossos. Contudo, não sinto na pele dor alguma -, apenas um travo amargo na garganta e a certeza de que a resposta da dor será imensa. Não existe um linimento, tisana, unguento ou o que quer seja que possa curar a enfermidade d'alma quando carregamos a verdade do tempo presa às nossas costas. O que é a Vontade de Deus? Como podemos compreender o quê, a nós foi designado como herança neste plano físico? Esta compreensão em determinados momentos, me parece tão distante da minha condição humana e mesmo renovada a minha crença nesta Fonte Sapiencial a qual denominamos Deus, ainda assim, eu pressinto a dor e agonia acercando-se a mim. A minha solidão é eterna. A minha solidão resiste e se sustenta e segue mutilando toda certeza que eu depositei em meus passos no decorrer dos anos. Ao descobrir o meu maior adversário o meu próprio sangue, o que está oculto em mim - o meu próprio gene -, não tive como evitar a hora mais escura entre o dia e a noite. E agora, ouvindo a inspiração que emana do silêncio, eu aceito e me curvo diante deste vazio que murmura no imo da alma clamando perdão. Há um coração dentro do meu peito, há um sopro que o mantém pulsante de vida e todo um processo de crenças distorcidas, valores invertidos contribuindo de forma a aumentar minha tristeza. Contudo, as sucessivas idas e vindas e busca do entendimento do perdão e do perdoar, mantem a certeza maior ( o sangue)  salvaguardando a minha paz e a minha estrutura psicológica, não me fazendo um ser limitado ainda que eu caminhe na solidão.


para meu irmão Plínio






quarta-feira, 5 de outubro de 2016

CURITIBA E SEUS MUITOS VAMPIROS


Curitiba e seus muitos Vampiros

Curitiba à noite tem seus mistérios. [ ! ] Inferno, purgatório e paraíso se misturam à garoa fria que umedece calçadas de petit pavé, tornando-as lisas línguas prontas a lamber os calcanhares incautos e que  adentram o território vampiresco.  Meia noite_______os pecados são expurgados! Beatriz purifica-se pelas praças seguindo sua viagem em busca das estrelas... Passos apertados, passos de virgem e seus pensamentos interrogados (transmutação!) _"Dante"! Onde estará?! Mais passos rápidos e finalmente a esquina, Ubaldino do Amaral com Amintas de Barros.
...a porta aberta é o sinal. Ela entra e imediatamente sente os braços envolvendo o seu corpo (sente frio)
Lentamente, Beatriz levanta o rosto e oferece ao beijo, os lábios virgens e sem batom...



foto: retirada do Google


segunda-feira, 3 de outubro de 2016

BEIJO DA CIDADE


Beijo da Cidade

_______________________________a flor apodrecida dorme!E não sabe de mim, mesmo que eu nascesse mil vezes ainda assim, nada saberia! É somente uma flor, nada mais. Não pode ser apunhalada, porque dorme junto aos demônios e toda canção de ninar ecoa madrugada a dentro, e já não tem porque rever a eternidade, se o beijo que me é destinado vem carregado em asas de cantáridas e ninguém ( dela) me libertará.