quinta-feira, 29 de novembro de 2018

ENTRE LAÇADAS & NÓS


Fusão

Minha alma em tormo da sua alma
se tornou um nó
apertado e sombrio.
Cada volta do laço sobre o humano
torna-se raiz, para se apossar
profundamente
e é um abraço infinito e longo
que nem a morte romperá.
Você não sente como eu me nutro em sua sombra?
Minhas raízes foram traçadas em suas raízes 
e quando você quer desatar o nó,
você sente que o machuca em carne viva
e que em sua ferida
o sangue jorra de você!
E com as mãos você cura a ferida
e aperta o nó com mais força.

Juana de Ibarbourou




terça-feira, 6 de novembro de 2018

A APARENTE FRAGILIDADE DAS FLORES




Alternam-se sol e chuva, luz e sombra enquanto espero a paz que vem do seu sorriso e do seu olhar. Talvez eu chore amanhã. Talvez meu dia nem amanheça e o céu não me dê um sorriso azul. Há muito mais espinhos do que flores e muitos desejos fugazes se fazendo presentes. Há na ponta dos meus dedos uma sensação que me apavora enquanto me devora e solta este animal exótico que te seduz. Preciso desta textura, deste estágio e destas rendas que me realçam enquanto me preparo para você fazendo do meu corpo, o seu relicário. E dos frágeis vidros coloridos, óleos e sândalo perfumam minhas fantasias, naufragadas em espumas e aquecidas em água morna. Preciso destas formas e cores, destas horas, sozinha comigo e com a espera pelo contato das suas mãos em minha pele.Preciso da claridade das suas flores brancas neste jardim sobre o meu corpo enquanto te afago e beijo. Preciso dos seus olhos na claridade do meu amor e o seu amor eterno em mim.


Luciah Lopez


segunda-feira, 5 de novembro de 2018

HORA DE DORMIR



Chegou a hora de me deitar. A janela filtra a luz da lua criando desenhos na parede _____alusão à Kandinsky?! Um sopro de vento frio balança a cortina e desfaz-se os desenhos, a parede volta a ser nua e a nudez da parede é como a minha nudez, e eu penetro a dolorosa sensação do vazio.
Excepcionalmente, eu consigo esquecer o vazio, mas durante a noite, a hora dos pesadelos eu me sinto incitada a fazer perguntas desordenadas como se fosse possível obter uma resposta não irônica, não trágica, uma vez que a minha capacidade de entender as particularidades contidas em falsas verdades é bem acentuada. Novamente uma lufada de vento frio move as cortinas. Está frio, mas eu me sinto muito a vontade assim, e mantenho a janela entreaberta e o vento frio da noite resfria os meus pensamentos enquanto eu me aqueço debaixo do edredon. Os meus olhos estão tão cansados, mas ainda buscam as palavras que não chegaram, ainda evocam a figura que está guardada no meu coração e o Tempo parece mesmo que não tem fim...
Eu percebo que Asgard é assim - um sopro. Ah, deixa pra lá, melhor voltar à realidade, este fiel antídoto que tomo aos goles antes de dormir e que me mantém viva, mesmo no meu pior pesadelo.



arte visual: Luciah Lopez


FRIDA KAHLO



Na bacia de louça
se despe das cores ((aquarelas)) azedas
escorrem das tetas
em ca_chos de cachoeiras.
Se olha no espelho!
O que é, não está nas curvas 
nem no buço_____________olhos belos
sabem do azul 
que recobre as paredes do coração
e no sombreado da rua
o beijo que beija a própria boca.



imagem: Luciah Lopez 
aquarela sobre papel canson

domingo, 4 de novembro de 2018

TECENDO PALAVRAS




E me chama de irmã - a poesia
e me faz diversa entre as mulheres
e quando chega aos meus pés
a réplica dos seus passos
eu me faço estrela - inefável aos seus olhos
por detrás das cortinas - entre o cárneo das paixões
e o rumor do seu coração na caixa sonora do tempo...

[Alfazemas são queimadas sob o sol
e a deidade senta-se ao meu lado
(permanecemos primavera por todas as estações)
e mais do que nunca
o perfume das alfazemas incensou-se
permitindo-me tecer palavras na pele do mundo.]

... e o seu coração de infância e riso
de súbito adormece entre as minhas mãos
absolutamente puro - como uma criança...

[ Nas alturas do mundo
estrelas são acesas e
as caravelas navegam o infinto mar
do meu coração]


Luciah Lopez


imagem: Lucia Joyce

O AMOR



Tantos momentos onde a dor é a única companhia e a introspecção me faz perceber o quanto somos confusos diante do Amor. Diversas situações clamam por uma resposta imediata, contudo, a objetividade é dissipada mediante palavras escritas ou mesmo pronunciadas. Tanto espero em função de vivências, que se criou um triângulo inexato, que me leva a buscar um canal por onde possam fluir as respostas para o que eu não entendo, porém vivencio. Uma certa impaciência se faz presente, mas o amor privado da consciência reflexiva me mantém onde sempre estive e estarei. Valorizando o sentimento, eu  priorizo o que foi estabelecido mesmo antes da certeza do amanhã. Assim é o Amor: um elogio íntimo que nos mantém reféns um do outro sem que nada se altere.





imagem: EViriato