terça-feira, 22 de dezembro de 2020

CARTA PARA O PAPAI NOEL

 



Com o mapa nas mãos, Noel sobrevoa a Caatinga buscando o local indicado e devidamente marcado com um X, feito com carvão. O mapa desenhado num pedaço de papel de embrulho, tem um dos cantos “mastigado” e apresenta marcas de dedos sujos, mostra claramente onde devem ser depositados os presentes – a árvore de Natal! Noel, pega novamente a carta. Olha demoradamente enquanto coça a longa barba branca. Tenta entender o motivo daquele pedido inusitado. Acostumado a viajar o mundo em seu trenó, sempre levando todo tipo de brinquedos – bolas, bonecas, carrinhos, trenzinhos, aviões – mas desta vez, a carta traz um pedido diferente. Respira fundo, coça a barba e pensa se a cartinha não podia ser apenas uma brincadeira de algum desocupado, mas, sendo ele o Papai Noel, não pode deixar de atender um pedido como aquele. E sobrevoando aquela terra árida com o treno carregado com os presentes,  de vez em quando, um pouco apreensivo tentava acalmar as renas... “Vamos, meninas, já esta estamos chegando” e chama carinhosamente cada uma delas pelo nome: “Dasher, Dancer, Prancer, Vixen, Comet, Cupid, Donder e Blitzen, em frente!” Com um "solavanco" no trenó, ajeita a carga tendo o cuidado de olhar se tudo continua no lugar. Não pode perder nada, principalmente ali, no meio daquela “secura” desertificada. Se perder algum dos presentes, não tem como arrumar outro, pois 95% da carga fora “comprada”, e,  não confeccionada pelos elfos na sua fabrica no Pólo Norte. Uma lufada de ar quente e seco traz até o seu nariz, o cheiro do bolo de nozes, presente da senhora Noel, que se comoveu ao ler a cartinha. O restante da carga de presentes – carne de sol, farinha, manteiga de garrafa, rapadura e outros itens que foram devidamente descritos nos seus detalhes – iogurte, bolacha recheada, arroz, feijão, doce de leite, café, goiabada, um vestido de chita florida e um metro de fita de cetim vermelha e muitos outros itens. Além disso, trazia também uma nota à parte, pedindo: sal grosso, farelo, alfafa e um osso bem gordo e ração para cachorro e um lembrete. ps: NÃO ESQUECE, É IMPORTANTE! De repente, uma árvore se destaca no meio da planície seca. Noel observa o relevo e identifica como sendo o ponto de entrega. Faz um gesto com os arreios e diz: Desçam meninas, desçam... E as renas conduzem o trenó com suavidade aterrizando na Caatinga entre cactos espinhentos e galhos secos. Noel salta do trenó e caminha até a árvore, e encontra um bilhete preso no tronco seco. “Papai Noel, eu quiria qui o sr. trais pra nóis um poco de comida porque aqui, a fome mata um mininu tudu dia. Não queria qui meus irmãozinho morreçe de fome, então eu pedi a cumida e os brinquedo e carrinho que é pra eu dá pro Cirço, porque ele só tem um ano e pode brinca di carrinho. Nóis já num pode. Trabaiamô na carvoaria... Papai Noel, nem me esqueçi da cumida do Branco o meu cachorro e nem da cumida das cabritas purque elas tem qui dá leite. O vestido de chita e  fita vermêia, era pra minha mãe por nos cabelo e quem sabe ela ia fica feliz de novo e parar de chorá, num é? Mas eu isperei, isperei e o sinhor não veio. Será qui a carta num chegô...

Um abraço e a sua 'bença' Papai Noel. Assinado: raimundo da silva".


Noel, enxuga as lágrimas e diz aos elfos que voltem para o trenó...


imagem: Árido

Aquarela sobre papel Canson

Luciah Lopez

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