domingo, 7 de março de 2021

PEREGRINAÇÃO




O vidro e a prata e o negrume da noite...
Sou espelho de mim mesma, segredo de sete vidas na eterna imagem do que sou, do que fui e serei. Uma nova utopia, um caminho entre o cobrejar da serpente e o voo do pássaro aprendiz, a abelha, o pólen, a flor e a raiz que sustenta o mundo. Não há uma montanha, e, sim uma planície estendendo-se desde a foz do meu olhar até o delta de todos os sonhos meus enovelados em fios de algodão e seda - a trama e a urdidura no tear do existir e do ser. A contemplação do sagrado, a vestimenta, o plano e o convexo, o ardor, o fel, a quietude mística, o cometa, mar e o oceano da minha existência. O sol em sua incandescência beija a lua, a argila beija a mão do oleiro no nascimento do jarro. O óleo desvirgina a pureza da argila, o fogo derrete a cera e o coração apascenta a fera e sua inadimplência. O céu está girando os astros em sua orbita de silêncio e o que esta dentro de mim, pulsa e vibra conspirando com o universo em busca do numinoso. A casa de minha mãe é sempre onde estou -, as portas são abertas e o fogo aceso é a presença daquele que vem, com os pés desnudos e traz  nas mãos todas as chaves e o código que decifra todas as línguas. Sou! Sou o que a pérola é para a concha, sou o que a letra é para a escrita. As palavras e os sentidos, os significados, os enigmas e a descoberta da verdade na poesia absoluta. A remissão dos pecados ante o cadafalso, o infinito numero de pétalas da mesma rosa, a diminuta grandeza do grão de pólen-, estame e filete na graça do que é eterno. A continuidade da luz no reflexo da escuridão. A corda retesada, o nó, o cabelo do pó, a mão da Medusa, a diáspora, o sangue e o gene no mesmo cálice. Sou o espelho, o olhar, a voz, o gesto, o verso e o reverso da minha descendência, sou. Desnudo-me da pele, deixando-a secar em tosco jirau, para vestir-me de carne e sangue e sentir a plenitude da minha existência -, o meu próprio Ser!


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