quarta-feira, 7 de setembro de 2016

RABISCOS MARGINAIS


 Rabiscos Marginais 

E sem mais, bateu os pés na guia da calçada e dobrou a esquina ganhando a escuridão. Não olhou para trás, não levou consigo os infortúnios nem tampouco o claro escuro daquele mundo obsoleto. Fosse como fosse, era a rua, sua companheira -, as calçadas de pedras polidas, os velhos portões de ferro fundido, as esquinas secas, as paredes descascadas cheirando a mijo. Era nos becos, nos bares e nos puteiros, nos inferninhos onde o olhar encadeado mal sabia da noite ou do dia - era ali, onde a acolhida se fazia com distinção e o estigma do terror era só um sinal riscado a ponta de faca, tornando desmerecida a vida e o vivente. E o suplício de existir era só mais um bolero de Ravel e a digital na borda do copo, nada mais______nada mais.



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