segunda-feira, 22 de abril de 2024

ANÁLISE CRÍTICA POR MHARIO LINCOLN





A volta de "Sábado Poético/APB" com a poeta Luciah Lopez, autora de "Semelhanças"

Luciah Lopez é membro da Academia Poética Brasileira, seccional do Paraná. 

Tem livro publicado e dezenas de prosa e poesia espalhadas pela internet.


 


Fonte:Mhario Lincoln/Luciah Lopez

 

Luciah Lopez com coragem poética, fala de Luz e Sombra

*Mhario Lincoln


"A tranquilidade não é a ausência de caos, mas a capacidade de lidar com ele de forma serena" 

(Sêneca).

 

O poema publicado pela grande poeta brasileira Luciah Lopez, na antologia "República do Texto", 

tem uma expressividade que qualquer cítrico literário a incluiria numa preciosa lista americana 

de conceitos líricos chamada de - "List of surreal poets" – onde estão elencados, apenas, 132 

poetas do mundo inteiro.

 

Uma lista mais que exclusivista. Porém, este poema (SEMELHANÇAS [ ! ]) é incrivelmente 

enigmático.  Foi-me difícil analisá-lo. Porém fui abordá-lo através da maneira como a obra 

mescla reflexões existenciais com uma estrutura lírica que evoca a complexidade dos sentimentos 

humanos. E como eu estudo e gosto muito desse tema, mergulhei fundo, a fim de descobrir nuances

nas entrelinhas espasmódicas dos versos. Por exemplo, o uso repetido do imperativo 

"Tente, tente de novo!" me trouxe à baila a persistência e renovação (sempre) de Luciah Lopez. 

Eu a conheço e com ela tenho um ótimo convívio. Essa é a razão de começar essa análise por 

essa nuance muito perto do que os críticos podem chamar de tradição literária modernista 

(até pós-modernista), onde são exploradas tensões entre desespero e esperança, isolamento 

e a busca por significado. (Falas poéticas, claro!).

Outra nuance me chamou a atenção: semelhanças com TS Eliot também pela poética de Luciah 

conter complexidade temática e, de certa forma, inovação estilística, a mesma que recentemente 

li em livro do poeta Rogério Rocha, o extraordinário, “A Linguagem da Ausência”, 

já resenhado no Facetubes(www.facetubes.com.br). 

 

Luciah me remeteu "The Waste Land", onde Eliot explora a fragmentação da civilização moderna

 e a busca contínua pela renovação em um mundo aparentemente sem esperança. 

E quando você coloca, ambos, em sua frente Luciah e Eliott, fica mais claro 

(há diferenças da construção; porém similitude nas ideias e pressupostos). Leia, abaixo:


                                                        De Eliot (tradução livre): 
                                                "Abril é o mês mais cruel, gerando
                                                 Lilases da terra morta, misturando
                                                Memória e desejo, agitando
                                                Raízes entorpecidas 
                                                com a chuva da primavera (...)". 

                                                        De Luciah:
                                                "Cala-se a penumbra e
                                                  a diáfana visão - misteriosa
                                                 alma profana - envolta em tristezas

                                                 me ponho a caminhar(...)”

 

 

Ora, tais manifestações líricas me revelaram uma interessante interseção temática 

de melancolia e reflexão sobre a condição humana. Enquanto em Eliot expressam 

a crueldade do mês de abril, quando há uma sensação de renovação que é, 

ao mesmo tempo, dolorosa, mas que também revive memórias e desejos que talvez 

fossem melhor terem sido deixados em repouso.

Já os versos da poeta paranaense Luciah Lopez, membro da Academia Poética Brasileira, 

seccional PR, falam de um silêncio que se instala na penumbra, onde uma “alma profana” 

envolta em tristezas, começa a caminhar. Aqui, a ênfase está no silêncio e na tristeza,

 na jornada solitária da alma. Logo, com características individuais e intransferíveis, 

ambos os trechos lidam com temas de luz e escuridão, vida e morte, renovação e desolação, 

explorando a complexidade da experiência humana. 

 

 

No fundo, me sinto mais seguro quando invoco a filosofia (poética) para expressar

 minha visão sobre a "doença do espírito", citada no verso de Luciah: acho eu - em

 total liberdade poética - um grito que reflete a ansiedade para encontrar ou manter a fé 

em um mundo pós-moderno. Essa linguagem sugere uma tentativa de transcender

 as limitações humanas e encontrar renovação espiritual através da perseverança,

 mesmo que essa busca pareça fútil.

Maravilhei-me (como sempre), com esta produção lírica de Luciah Lopez, aliás,

 com a maior parte da obra dessa poeta espetacular (que não visa aclames, reclames, 

nem holofotes), na maioria das vezes, reflexões sobre a persistência em face do absurdo,

 emolduradas dentro de uma análise mais ampla da poética filosófica, que questiona

 e explora a resiliência humana diante das adversidades espirituais.


Vamos ler juntos o poema publicado na Antologia APB, "República do Text
o”:

 

SEMELHANÇAS

Luciah Lopez

[ ! ] do ontem, apenas a sombra
errante e silenciosa
cala-se na penumbra.

"Tente, tente de novo!"

e as vogais se embaraçam nos meus cabelos
as fraquezas endireitam a existência
e quanto mais aprendemos, mais nos isentamos
da culpa (?!) e mais chafurdamos
na doença do espírito - a falta de fé!

"Atordoada!"
[ ! ] continuo caminhando
a evadir-me na correnteza

"Tente, tente de novo!"

Cala-se a penumbra e
a diáfana visão -  misteriosa
alma profana - envolta em tristezas
ponho-me a caminhar.

Embalo no colo 
as badaladas do velho relógio
_________ e o Tempo adormece
ternamente...

"Tente, tente de novo!"

 

 

 

 

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