terça-feira, 4 de julho de 2017

DESTINOS



Extraordinário era o vazio e a indiferença das tardes diante do velho carrilhão e seus ponteiros dourados. Só me restava a Rosa dos Ventos  -, florescendo a direção que os meus pés deviam seguir. Os meus olhos desapareciam por entre as nuvens e as suas mãos choviam na natureza das flores; e o desenlace de pensamentos era como o término das noites e o início dos dias - pouco me importava o evangelho da Vida e as suas reprimendas porque ela estava ali e aquela presença me valia contra o mundo. A luta era minha, o caminhar era meu, o apetite era imenso de sabores - Vida era minha e ela era a irmã e era a mãe de todos os Tempos e eu escrevia o seu nome no embaraço das linhas sem saber da gratidão que amarraria  a sua vida à minha. E todos os invernos passaram e eu, já habituada à solidão que amiúde tenta me enlouquecer revelando um pedaço do céu e 1/4 do inferno e suas moralidades excessivamente humanas, me faço em murmúrio a cada instante - como uma prece ante o pão assando no braseiro e a incerteza diante do copo d'água. E mais uma vez ela compartilha a Vida e o sonho para que um dia possamos celebrar a comunhão da existência porque não há diferentes palavras entre nós quando caminhamos juntas em procissão carregando o pranto das velas e a indescritível alegria de poder cantar enquanto a claridade ainda está em nossos olhos. 

para minha irmã Dulce 
( in memoriam)



foto: LL


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