domingo, 23 de julho de 2017

ENTRE O SER E NÃO SER


Nenhum lugar podia ser melhor que Vanaheim. Não naquela época em que eu andava por lá, usando a velha calça jeans desbotada e os cabelos caídos sobre os olhos, levando no ombro, a bolsa tiracolo feita de barbante. Eu ansiava pelo anoitecer tanto quanto pelo amanhecer, porque as respostas para as minhas perguntas tanto se davam ao clarão da lua, ou sob o calor do sol. E não havia nada mais angustiante do que não poder me desvencilhar do Reino do Óbvio e viajar pelos céus daquele mundo fantasioso. A sombra de Yggdrasil era por demais convidativa a interpretações do Mundo Descarnado, tal qual era bom viajar naqueles balões coloridos sem o incômodo de lamurias dos visitantes indesejados. O Tempo era mais que um ancião alquebrado, e aromava hortelã o seu halito enquanto me dizia chamar-se Yohanan. O Tempo não engole ninguém nem mesmo engoliu Jonas! Às vezes uma chuvinha amiúde feito brisa, obedecia o modo de bem viver das plantas e flores. Mesmo preocupada com os meus papéis de carta eu me permitia beber dessa água como se fosse água batismal. Todos os dias eu renascia na inocência de um ser irreal, enquanto lá fora -, o mundo se vestia qual Babilônia em sua glória obsoleta.


imagem: Chelsea Greene Lewyta



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