quarta-feira, 2 de agosto de 2017

LADAINHA


Tencionava que os meus temores fossem um segredo, mas a estranheza da noite chegou num tropel de cavalos loucos e o mundo estremeceu em agosto. Os pressentimentos alvoroçados e o assovio da Mãe da Noite se fez ouvir. Vinha da rua debaixo um murmúrio encalacrado e contínuo, mais parecendo a ladainha do Pai Eterno me obrigando à confissão dos meus pecados antes que eu pudesse evadir-me noite adentro sem ao menos deixar cicatrizes. Com a mesma rapidez que os cavalos passam por mim, a noite carrega os ruídos aparentemente guardando-os na memória do Tempo para que eu possa sempre me lembrar dos vestígios de um beijo sem explicação e do olhar de Caim sobre a Terra nua...


imagem: Sylva Zalmanson


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