segunda-feira, 2 de julho de 2018

AVESSO DE MIM



O vento que açoita meu rosto levanta a poeira dos cabelos do milho acariciando os grãos adormecidos no ouro de cada dia. Meu grito engasgado amarga a minha boca e acorda o pássaro que me habita as entranhas. Sua agonia e dor me causam sofrimento enquanto que com suas asas me acolhe em porte de cruz. O seu cantar é pura tristeza quase um lamento que não cala e não arrefece fazendo do meu coração altar onde a minha alma é imolada dia a dia. Este pássaro quer voar, sair de mim, ganhar altura entre as nuvens e olhar o dorso da grande cobra d’água, solitária, adormecida entre a canarana nas rebarbas do rio. O meu pássaro viajante me dá seus olhos para eu ver mundo, a dor e seu coração para que eu possa viver mais um pouco e alcançar as cores da aurora boreal.


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