quarta-feira, 27 de julho de 2016

O CIRCO




O CIRCO

Na minha infância, era muito comum os pequenos circos se instalarem num terreno próximo a minha casa. Armavam a grande e puída lona, faziam as chamadas pelo bairro e ficavam em média dois finais de semana. Depois desmontavam tudo e sumiam da mesma forma que chegaram - em silêncio. Nesses períodos era sempre a mesma coisa -, o sumiço de gatos e cachorros do bairro. Muita gente falava à boca miúda-, que era o pessoal do circo, quem desaparecia com os animais, mas ninguém podia provar. Restava só falatório sempre que alguém sentia falta de um gato ou cachorro. Diziam que o pessoal do circo recrutava a molecada do bairro e trocando um gato ou cachorro por entradas no espetáculo e os animais eram jogados como comida aos leões magricelas e mal tratados, que passavam a vida inteira presos em pequenas jaulas de 2 x 2 metros, urrando a noite inteira. Numa dessas aparições de um pequeno circo, o meu cachorro, um pointer marrom e branco chamado Napoleão, fugiu enquanto minha irmã entrava pelo portão de casa. Não deu outra -,  eu aos prantos, esguelando e chamando o cachorro e todo mundo procurando por ele. No bairro todos conheciam o meu cachorro e  ajudaram a procurá-lo até o final da tarde e nada de encontrar o Napoleão. Eu ainda esguelando esperava o meu pai chegar. Mal ele parou o carro e foi cercado por todos, falando ao mesmo tempo sobre o sumiço do cachorro. Meu pai deu uma olhada para constatar o meu estado lastimável (olhos inchados, nariz melequento e a boca escancarada num choro sem fim) e sem mais a falar ou fazer, entrou no carro e foi até o circo. Pimba! E chegou na hora. O cachorro estava lá, amarrado com uma cordinha talvez esperando a hora de virar comida de leão. Meu pai chamou a polícia e armou um barraco. Moral da história - o circo desarmou o acampamento e partiu, mas o Napoleão voltou pra casa são e salvo. 



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