segunda-feira, 24 de outubro de 2011

AS BORBOLETAS NÃO MORREM


As Borboletas Não Morrem

Minhas férias escolares sempre foram motivo de muita alegria - era a própria liberdade na fazenda dos meus avós - promessa de longos dias de aventura pelas matas, banhos de rio, cavalgadas pelos pastos com o vento no rosto. A noite, as histórias do meu avô.


Era o meu País de Faz de Contas. Onde tudo era possível, onde eu era a princesa soberana de todas as histórias - que mais eu poderia querer?!
Meu avô era mestre em contar histórias de lugares distantes, de um povo guerreiro, de princesas de olhos negros e pele de veludo - Vovô, os meus olhos não são escuros! - Ele respondia sorrindo -"Mariame, seus olhos tem a cor das areias, da dunas".


Essas histórias povoaram minha mente por  muitos anos e as histórias reais eu aprendi junto com meu avô. Com ele conheci o milagre da vida no nascimento de potros e bezerros, na transformação de flores em frutos, na maturação destes frutos e o surgimento da semente. E também a mão certeira da morte colhendo suas vítimas e o séquito alado  sobrevoando, a espera do banquete.

Tudo me foi passado de uma maneira tão doce quanto o mel que colhíamos dos favos e lambuzávamos nossos dedos aproveitando cada gota dessa dádiva de Deus. Ficávamos horas intermináveis deitados à sombra das pitangueiras ouvindo o baque surdo do monjolo e outras horas mais, olhando os peixes descansando por baixo das ninfeias em flor. Tudo em perfeita comunhão com o universo pulsante de insetos e pássaros que nos brindavam com seu canto melodioso.

Uma tarde, meu avô levou-me a um lugar secreto. Um olho d'água!! Uma lágrima da Mãe Terra, pronta para saciar nossa sede. A terra em volta da mina d'água, era úmida, coberta de bambus e taquaras formando uma sombra refrescante. Foi uma visão do paraíso descortinando-se aos meus olhos de criança. O chão coberto de borboletas de todas as cores, de todos os tamanhos. Elas pousavam na areia úmida, desenrolavam sua língua-tromba e sorviam água para depois voar e pousar mais além. Quando me aproximei, todas voaram.

Me senti num carrossel de anjos coloridos que esbarravam em mim, e eu, tentando pegá-las enquanto meu avô em gargalhadas dizia: "São fadas, faça o seu pedido". - Um  desejo nascido do coração de uma criança pode tudo. Então percebi algumas borboletas imóveis no chão - mortas! Não voavam mais - estavam mortas! Fiz o meu pedido.

Pedi para que as borboletas nunca mais morressem, e fossem voando para o céu e assim ficassem aos anjos em nossos sonhos. Talvez, hoje, meu avô esteja com alguma borboleta pousada em sua mão, como ele fazia..."veja Mariame, ela veio me dar bom dia".


para meu avô - vivo na minha memória.

Nenhum comentário:

Postar um comentário