sábado, 22 de outubro de 2011

CIO



CIO


Em noite de lua cheia, ela sentia uma comichão nas “partes” e um calorão que lhe subia e subia até entontecer o juízo. E era um calor danado, mais quente que tição em brasa, muito mais quente que o “bafo” do Cão.

Ela soltava os cabelos enovelados, segurava a saia rodada, feita de chita florida, e , saia em disparada, com os seios balançando soltos dentro da blusinha branca.Corria, feito louca. Corria até que lhe faltasse o ar. Então caía, com o corpo retesado, cravejado de gotas de suor e a boca espumando uma saliva espessa e branca. Rolava pelo chão e urrava feito bicho, feito loba faminta - arranhava as coxas e mordia os lábios.

A lua meio escondida entre as nuvens, olhava assustada, aquele bicho lá embaixo se espojando nas folhas secas, babando e gemendo, se contorcendo no chão.
Às vezes, o vento trazia refrigério para aquele corpo em chamas e benzia aqueles pés afoitos, que se enterravam na areia úmida das barrancas do rio onde ela se refugiava.

Era uma loba. Uma loba faminta de carne. De sexo. Faminta de vida pulsando dentro do seu corpo e alimentando-a com estocadas profundas. Só isso a deixava saciada. Fazia com que ela voltasse a ser dócil, quase angelical. Mas a rezadeira havia feito um encanto.Trouxe um “cozido de ervas” e com isso foi feito um 'esfregaço' em seu corpo para afastar os demônios que a possuíam. E colocou em seu pescoço, o colar de ossos de pássaros e sementes de cheiro; para manter afastados os desejos da luxúria. De nada adiantavam as poções e patuás da velha bruxa, quando a noite chegava quente, ela sentia o  sangue ferver.

E se largava pelo campo e corria solta, rasgando as roupas  buscava o corpo do seu homem para acalmar a “comichão” e quando não o encontrava, ficava assim, feito um bicho se consumindo na fome da própria carne até se sentir aliviada e adormecer ali, no meio do mato sobre as folhas secas onde somente o vento vinha rezar os seus pés descalços.




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