quarta-feira, 26 de outubro de 2011

ÁGUAS VERMELHAS


ÁGUAS VERMELHAS


A tendência de tudo nesta vida é "passar", como passam as horas. Passam as chuvas, as nuvens, as estações, ondas no mar.Passam as carroças e seus cavalos magros e suarentos, os cachorros com seu olhar triste, as prostitutas velhas e cheirando a naftalina. A batina do padre furada pelas traças, tudo passa. A dor de barriga, o homem que vende bilhetes [olha a borboleta!], a mulher que pede esmolas, o irmão que vai embora, o amigo que se casa... A faculdade que termina, a briga que se acaba, o pão que amolece, a fruta que apodrece, a boca sem dentes, o sorriso sem graça. Tudo nesta vida é passageiro, assim como viajantes de um trem, passageiros de um avião, de um balão, de um sonho... Passam as risadas, a pele macia, as pétalas das rosas, o silêncio dos olhos, a fome da barriga, a sede das bocas. Até o seu amor por mim passou... Só não passam as águas vermelhas. Águas paridas em sofrimento, rasgando abrindo as entranhas da terra, vertendo em jorros, escorrendo, tingindo meus olhos deste vermelho sangue...


Um comentário:

  1. Luciah;
    Entre palavras de vidro, de papel, colocadas no Orvalho ou mesmo brotada do Arquétipo; existiram sempre belos versos!!!
    Bjoss : ***

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