sexta-feira, 23 de novembro de 2012

SOB O CÉU



SOB O CÉU

Olhei o céu através da vidraça embaçada.
Não havia estrelas. O céu estava profundamente escuro.
Um céu diferente daquele que eu olhava quando ainda era uma menina, um céu vivo de cores e formas alegres que se movimentavam diante dos meus olhos sonhadores.
Sempre que estávamos na fazenda e a noite nos surpreendia por lá, eu aproveitava para me deitar no terreiro de secagem do café, em cima dos montes cobertos com lona amarela e me perdia no azul profundo do fim da tarde.
Quando a noite finalmente chegava trazendo estrelas tímidas, eu vibrava olhando o faiscar celeste. Minha mãe dizia: “Mariame, os anjos estão acendendo suas velas para clarear o nosso caminho até Deus. Todos nós temos um anjo especial que nos cuida e nos protege de todo mal” – e então eu imaginava uma enorme procissão pelo céu...
Hoje eu olhei o céu... Não vi as estrelas e me perguntei: Onde estão os anjos?! Onde esta o meu anjo, aquele que deveria estar cuidando de mim? Onde ele está, se o céu esta apagado neste aguaceiro?
Não sei – Talvez não fossem anjos lá no céu da minha infância. Talvez minha mãe estivesse errada. Senti uma lágrima. Lembrei-me de mim e dos sonhos que eu tinha, dos planos que fazia – “Ah, eu quero ser piloto de avião e voar sobre as nuvens”. E logo a seguir tudo mudava “eu quero ser exploradora e morar na África” “eu quero ser escritora e contar estórias” e contando estrelas eu nem percebi o tempo passar.
Hoje o céu esta encoberto e silencioso. A vidraça me separa do frio e do vento mas deixa o meu pensamento que se perder nas lembranças. Procuro o silêncio mas, ouço o riso de alguém dentro de mim. Talvez a menina que insiste em viver nos meus sonhos presa qual Rapunzel em sua torre, ela corre pelos corredores das minhas lembranças escondendo-se entre as cortinas azuis ou contando estrelas através das janelas dos meus olhos. Fecho os olhos. Fecho as janelas. Não há mais risos nem correrias. Cortando o silencio apenas um chorar triste. Fecho os olhos e não há luz pelos corredores. Fecho os olhos. Talvez assim a menina finalmente adormeça. Não ouvirei mais as estórias que ela conta enquanto caminha pelas minhas lembranças adormecidas.

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